#tempodemovimento | Parte I – Travessias | Entre os jesuítas um santo da Igreja

O Colégio de São Paulo era administrado pelos jesuítas.

Na vizinha Santo André predominava a influência de João Ramalho e seus descendentes mamelucos. Para os jesuítas sua vida causava escândalo, como afirmou José de Anchieta: “Ele e seus filhos andam com irmãs e têm filhos delas, tanto o pai como os filhos.” (In Toledo, 2012, p. 55) Era por vezes considerado como inimigo da Igreja pelos “graves crimes infame e excomungado” e sua família reunida representava males maiores que “a própria peste”. (In Toledo, 2012, p. 80) Os padres, de início, tentaram desviar Ramalho daquilo que chamavam de mau caminho, o seu modo próprio de vida, por ter várias mulheres, andar livre e solto como os indígenas, pelo apresamento de outros indígenas e de sua exploração, enfim  tentaram  levá-lo à confissão e aos sacramentos da Igreja.

Mas aos poucos, os jesuítas, mudaram  o discurso e a visão sobre João Ramalho. O Pe. Nóbrega em trecho de sua carta enviada  ao superior em Lisboa, escrita no segundo semestre de 1553 revela que:  “Neste campo está Ramalho, o mais antigo homem que está nessa terra. Tem muitos filhos e muitos aparentados com todo este sertão… é muito conhecido e venerado entre os gentios e tem filhas casadas com os principais homens desta capitania, e todos estes filhos e filhas são de uma índia, filha dos maiores e principais da terra. De maneira que nele, e nela e em seus filhos esperamos ter grande meio para conversão destes gentios.” (In Toledo, 2012, p. 89) Nesta  carta já não falava mais das suas muitas mulheres, mas de apenas uma, a Bartira, a filha do cacique Tibiriça que iria se tornar grande colaborador da obra dos jesuítas.

O nome da povoação se afirmaria mais tarde como “São Paulo de Piratininga”.  Era a designação dada pelos jesuítas em sua “carta quadrimestral” quando prestavam conta de suas atividades aos superiores da ordem, na Europa.  Nelas sempre se datava afirmando Piratininga.  Até que em uma destas cartas datada de 1562, escreveu-se pela primeira vez apenas o nome de São Paulo com o qual passaria a designar a nova vila.

Santo José de Anchieta

O padre José de Anchieta, apesar da pouca idade, logo se destacou no colégio.  Letrado, teatrólogo, poeta, além de dominar o latim, o espanhol e o português estudou a língua dos nativos.  Deste esforço resultou produzir a primeira gramática da língua, que foi colocada em uso desde 1560.  Anchieta, segundo vários pesquisadores como Marcelo Bogaciovas ( Bogaciovas, 2015, p. 318) e José Gonçalves Salvador (Salvador, 1976, p. 81) descendia de judeus por linha materna e, portanto, era um cristão novo. “A mãe de Anchieta era neta de judeus convertidos ao cristianismo. Seu trisavô foi queimado pela Inquisição por ser judeu.” (Bogaciovas, 2015, p. 319) Entrou na Companhia de Jesus com 17 anos onde foi recebido como noviço.  No Brasil se dedicou à tarefa de catequização dos indígenas e participou da criação do colégio de São Paulo.  Reitor de outros colégios e provincial dos jesuítas faleceu em 9 de junho de 1597 em Reritiba, no Espírito Santo.  Foi um das pessoas mais representativas da segunda metade do século XVI.

Recentemente seu trabalho foi reconhecido pela Igreja católica tendo sido declarado beato pelo Papa João Paulo II em 22 de junho de 1980, e santo em 2 de abril de 2014 passando a ser designado Santo José de Anchieta.

O colégio dos jesuítas era rodeado por habitações dos diversos grupos indígenas.  Dentre eles se destacava o cacique Tibiriça, considerado o principal dos principais do Planalto que veio a se tornar o guardião do colégio de São Paulo de Piratininga.  Ele foi destaque em tempo de paz tendo auxiliado na construção do próprio colégio e se tornou útil na defesa do local diante dos ataques de outras tribos mais hostis.  Anchieta atribuiu a ele os títulos de “benfeitor” e mais ainda o de “fundador e conservador da casa de Piratininga.” (In Toledo, 2012, p. 106)

Para saber mais:

– Quem foi o Pe. Anchieta.  In http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,quem-foi-o-padre-jose-de-anchieta-imp-,1138503