#tempodemovimento | Parte I – Travessias | A chegada dos colonos europeus

O açúcar, nos dizeres da historiadora Vera Lúcia Amaral Felini, “traz a civilização europeia para as Américas”. (Jornal USP, 2016) Com a sua produção foi necessária a vinda de mão de obra especializada, com experiência no seu cultivo e preparo em outras áreas produtoras.

ilustracao caravela portuguesa

Nau portuguesa século XVI

A travessia realizada pelos membros da expedição de Martim Afonso de Souza foi planejada e determinada pelos interesses da Coroa portuguesa e pelo desejo expansionista europeu. Estas novas travessias foram realizadas pelos interesses mercantis, por mercadores e colonos que passaram a trazer consigo mulheres e suas famílias.

Em 1537 se tem a notícia do primeiro casal de portugueses que se estabeleceu em São Vicente. Mas, a falta de mulheres brancas, neste início de colonização, acabou por favorecer as relações sexuais entre os aventureiros europeus com as mulheres indígenas. Na falta de casais brancos passou a prevalecer a regra do aventureiro: “eram as escapadas masculinas, sob o ponto de vista sexual. Eram farras de solteiros, e o entusiasmo com que contemplam as índias está testemunhado desde a carta de Caminha, onde se lêem insistentes descrições das preciosidades que as mulheres têm entre as pernas, tal qual se apresentavam aos forasteiros, “tão altas, tão cerradinhas, tão limpas das cabeleiras”. ( apud Toledo, 2012, p.58/59).

Da Europa vieram os Lemes, descendentes do flamengo Martim Lems, do antigo condado de Flandres nos países baixos. Chegaram a São Vicente, por volta de 1550, Antão Leme e o seu filho Pedro Leme, homem de posse com sua filha Leonor Leme já casada com Bras Teves ou Esteves que se tornou sócio do Engenho dos Erasmos; Jaques Felix, o flamengo que casou em São Vicente no ano de 1569; e, portugueses, alemães, belgas, holandeses, italianos que passaram a fazer a história dos engenhos e da própria Vila de São Vicente.

Dentre os europeus muitos eram cristãos novos. O próprio Martim Afonso de Souza “carregava nas veias certa dose de sangue hebreu” (apud Bocaciovas, 2015, p.95). Os engenhos de açúcar montados a partir de sua iniciativa tiveram quase sempre, a participação de “judeus industriosos, fugidos à fúria religiosa da metrópole e de operários de São Tomé e Madeira, conhecedores do processo”. (Caio Prado Júnior, apud Novinsky, 2015, p.88).

Dentre eles, no Engenho dos Erasmos, desde quando foi adquirido pela família Schetz, foi o primeiro lugar do Brasil onde se praticou a religião judaica. O capitão-mor do engenho, Jerônimo Leitão, era casado com Inês de Castelo, cuja mãe foi presa e penitenciada pelo Santo Ofício, sendo a mais fervorosa judaizante de seu tempo” (Novinsky, 2015, p. 89).

Portanto, como afirma Marco Antonio Vera, “Dos moradores de São Vicente, muitos eram cristãos novos, principalmente os que se dedicavam às atividades em engenhos de açúcar.” ( Vera, p. 200).

A decadência da produção do açúcar no litoral vicentino declinou ainda na segunda metade do século XVI em função de vários fatores conjugados, como os ataques a Antuérpia realizado pelos espanhóis, o ataque dos piratas franceses e dos indígenas do litoral, além dos estragos ocorridos em 1542 por uma pavorosa e devastadora ondas gigantes do mar. Os colonos passaram a buscar novas terras e novos meio de vida, longe do litoral.

Para saber mais:

-FLABEL, Nachman. Sobre a presença dos cristãos novos na Capitania de São  Vicçente e formação ética Paulista. Revista USP, São Paulo: no. 41, p.112-119, março-maio, 1999.

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