A missão de chefiar a expedição colonizadora coube ao jovem Martim Afonso de Souza, íntimo da corte e amigo do rei. Ele contava com 30 anos. A sua missão era combater os piratas franceses, conhecer as terras em direção do Rio da Prata, descobrir riquezas minerais e estabelecer núcleos de povoamento no litoral brasileiro.
Foi o rei D. João III, “o colonizador”, que tomou a decisão da realização da viagem marítima no ano de 1530. No entanto, os preparativos foram demorados e somente em dezembro de 1530 aconteceu a partida em Portugal. A armada de Martim Afonso se compunha-se de cinco embarcações bem armadas e aparelhadas: duas naus, um galeão e duas caravelas. Levava em sua comitiva cerca de 400 pessoas a bordo entre tripulantes, seus comandantes, marinheiros, soldados, colonos, alguns degredados, pilotos, cosmógrafos e nenhuma mulher! (Toledo,2012, 58) Isto leva a duvidar, a princípio, da sua missão colonizadora.
Após breve escala no arquipélago de Cabo Verde a esquadra alcançaria pela primeira vez a costa brasileira a 30 de janeiro de 1531, quando atingiu Pernambuco. A 3 de março tocou na Bahia e chegou ao Rio de Janeiro a 30 de abril. A 17 de agosto aportou em Cananéia, hoje litoral sul de São Paulo. Resolveu a partir dali enviar uma expedição rumo ao interior composto por oitenta homens para descobrir e obter ouro e prata e escravizar índios pelo caminho. Com ela era dado o sentido das investidas de aventureiros pelo interior do país. Pero Lopes chefiando os homens designados para tal missão partiu a 1º de setembro de 1531. Depois de longas aventuras pelo sul os que conseguiram sobreviver retornaram para se reunir novamente com seu comandante.
Em 1º de janeiro de 1532 prosseguiram viagem em direção a São Vicente onde havia uma povoação que contava com dez ou doze casas; uma delas feita de pedra com seus telhados, e uma torre para sua defesa. Os primitivos povoadores poderiam ser náufragos como também degredados, marinheiros que fugiam da vida dura dos navios. A expedição, devido ao mau tempo aportou na ilha de Santo Amaro. Dois dias depois, no dia de São Vicente, a 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso de Souza chegou ao local do mesmo nome.
Embora não tivesse prerrogativas para tal, Martim Afonso neste mesmo dia fundou a vila de São Vicente. Em seguida tomou as providências para instalar a Câmara, o Pelourinho e a Igreja, símbolos marcantes da colonização e bases da administração portuguesa. A 22 de agosto de 1532 foi realizada a eleição para a composição da Câmara municipal, a primeira em todo o continente americano. O lugarejo passou a ter a condição de governar a si mesmo. Nasceu com autonomia local e distante do poder central metropolitano.
Por meio da expedição comandada por Martim Afonso de Souza foi realizada com sucesso a caça aos piratas e traficantes franceses com a tomada de suas embarcações, arresto das cargas transportadas a bordo, em especial do pau-brasil e tomada de munições. Com efeito, houve um reforço geral na segurança das atividades marítimas e comerciais portuguesas, no nordeste, e instalação de um forte na área estratégica da baía da Guanabara. Houve um reconhecimento geográfico do litoral desde São Vicente até a região platina. Foram realizadas incursões para o interior em busca de metais preciosos, com resultados limitados, mas que serviram para estimar as possibilidades de exploração econômica do território com a criação do gado e plantação da cana- de- açúcar.
Ficavam traçadas as diretrizes para a organização e sustentação da economia colonial e estabelecida uma nova fronteira, o núcleo de colonização portuguesa: a criação da vila de São Vicente.
A vila de São Vicente se tornou um posto avançado criado com o objetivo de alcançar as prometidas riquezas no interior da colônia portuguesa. Ela reunia as condições para manter as comunicações marítimas e comerciais com a Europa e ao mesmo tempo com outras áreas do território sul americano. Ela surgiu para assegurar o processo de expansão comercial europeia. “Marginalmente pode ter tido alguma intenção colonizadora, e algum efeito nesse sentido teve, pois ajudou a povoar e a organizar a vida na terra.” (Toledo, 2012, p.58)
Para saber mais: Souza, Pero Lopes de. Diário da Navegação da Armada que foi a Terra do Brasil em 1530 sob a Capitania Mor de Martim Affonso de Souza. Disponível em http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/18401.
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