#tempodemovimento | Parte I – Travessias | Chegam os cristãos novos

A produção historiográfica brasileira mais recente vem dando destaque para a presença e importância dos cristãos novos na vida colonial brasileira e, em especial, no planalto paulista.  Eles chegaram à vila de São Vicente logo nos seus primórdios.  Em seguida acompanhando o movimento da colonização transpuseram a serra pelo Caminho do Mar para criar os primeiros núcleos de povoamento no planalto de Piratininga.   Entre os primeiros povoadores do planalto havia muitos cristãos novos.  Eles passaram a fazer parte do cotidiano, da vida nos tempos coloniais. Segundo José Gonçalves Salvador, “por muito tempo seriam a maioria da população.” (Salvador, 1976, p. 5)

O denominado cristão novo português surgiu por intermédio da provisão real de 30 de maio de 1497.  O rei D. Manuel, pressionado pelos reis católicos espanhóis, promulgou em 1496 a expulsão dos judeus de Portugal, de forma ambígua, pois impediu ao mesmo tempo a saída deles do reino.   Desta forma resultou, no ano seguinte, o batismo forçado dos judeus que assim se tornavam católicos.  Aos que resistissem restaria a perseguição e a morte.  Segundo Marcelo Bogaciovas “o terror fora instaurado em Portugal”. (Bogaciovas, 2015, p. 38)  Desta forma nasceu o cristão novo português,  um  novo indivíduo  dividido entre o mundo cristão manifestado externamente e o mundo judaico praticado em casa, junto aos seus.

A presença dos judeus na Península Ibérica sempre esteve cercada por uma série de incidentes e contradições. Eles ali chegaram muito antes da invasão dos mouros. Quando D. Afonso Henriques (1143-1185), “o conquistador”, fundou a monarquia portuguesa e regulamentou, nas cidades reconquistadas aos mouros, a liberdade de comércio aos católicos, mouros e judeus. Ele também concedeu a eles cartas de liberdade, chamada de forais. A partir do reinado de D. Fernando I, “o formoso” (1367-1383), voltaram os tempos de dificuldades e de perseguições.

No ano de 1492 os espanhóis tomaram Granada conquistada aos mouros e assinaram a expulsão dos judeus que não quisessem se converter no prazo de quatro meses.  Por intermédio de acordo Portugal passou a acolher os judeus provenientes da Espanha. Calcula-se que perto de 120.000 pessoas passaram para Portugal.  Por pouco tempo gozaram de certa liberdade e tolerância por parte da sociedade portuguesa.

Devido ao grande número deles em Portugal e de sua atuação significativa em todos os setores da sociedade, na organização das viagens de descobrimento e na participação na organização e expansão do império português, pode se afirmar que não se pode falar da História de Portugal deste tempo sem mencionar a presença e a forte atuação judaica.

Os cristãos novos estiveram presentes na viagem de Cabral, na exploração do pau-brasil, com Fernando de Noronha, na cultura da cana- de- açúcar na faixa litorânea, no comércio e na vida da colônia em geral.  A partir de 1530, com a instalação de vilas pelo litoral brasileiro, aumentou a presença dos mesmos pelo país.

candelabro com nove velas e simbolo judeu

            Menorah: candelabro sagrado de 9 velas da cerimônia judaica do Hanukah 

Eles chegavam e procuravam se integrar no novo ambiente, participando e colaborando efetivamente no conhecimento e organização do novo mundo.  Nestes primeiros tempos de vida colonial houve entrosamento com a vida dos demais colonos e aproximação com os povos primitivos.  Por que “granjeando a confiança dos indígenas, foram admitidos ao seu convívio, aprendendo a língua nativa e aparentando-se com eles através de uniões ou casamentos.” (Salvador, 1976, p. 5)

Para saber mais:

– GUIMARÃES, Marcelo M.  A chegada dos cristãos -novos e marranos ao Brasil.

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