A vila de São Paulo na primeira metade do século XVII se transformou em posto avançado da colonização portuguesa e deu continuidade ao movimento de expansão europeia nesta parte do território brasileiro.
A partir desta vila, favorecida pela sua posição geográfica, a expansão paulista se fez por três passagens que seguindo as linhas do relevo condicionaram os rumos na penetração para o interior do país. Eram três principais: a passagem em direção ao sul e sudoeste, via Sorocaba e Itapetininga; a passagem para o norte, por Campinas e Mogi Mirim, em direção a Minas Gerais e Goiás; e, a passagem rumo ao nordeste, passando pelo Vale do Paraíba em direção às Minas Gerais, Rio São Francisco, nordeste e norte do Brasil.
Por esta última deu-se o movimento de penetração e exploração do Vale do Paraíba. As primeiras incursões tiveram início no século anterior, motivadas pelo desejo de conhecer o território e encontrar riquezas minerais.
Foi em 1560, no mesmo ano da elevação de São Paulo à categoria de Vila, que o governador do Rio de Janeiro, Mem de Sá, após a expulsar os franceses da Baía da Guanabara, deteve-se na Capitania de São Vicente e providenciou para que o provedor Brás Cubas e o mineiro Luís Martins fossem ao sertão adentro buscar minas de ouro e prata. Os sertanistas partiram de São Paulo e tendo os índios como guias passaram por Mogi das Cruzes, entraram no Vale do Paraíba e rio Paraíba do Sul até a paragem de “Cachoeira”, atual Cachoeira Paulista. De lá foram em direção a Serra da Mantiqueira, atravessando-a até atingir o rio das Velhas de onde correram a margem do rio São Francisco. O mesmo trajeto foi feito no caminho de volta com conhecimentos e notícias sobre a região.
Outras incursões foram realizadas a partir de então. Waldomiro de Abreu, historiador radicado no Vale do Paraíba, considerou que por volta de 1580 o território compreendido entre a vila de São Paulo em direção a serra do Mantiqueira e do Mar tendo o rio Paraíba no seu curso já estava conhecida e conquistada. A região adquiria uma função que permaneceria ao longo do tempo: se tornou um lugar de passagem.
O movimento seria ampliado sob os auspícios de D. Francisco de Souza, que por seu fascínio por minas repletas de ouro e metais preciosos estimulou novas entradas pelos sertões. Foi assim que em1596 João Pereira de Souza Botafogo adentrou os sertões do Vale do Paraíba.
No mesmo ano ocorreu a famosa entrada realizada pelo governador Martim Correa de Sá que saiu do Rio de Janeiro a 14 de outubro com a finalidade de guerrear com os índios tamoios e, ao mesmo tempo, atender às ordens de D. Francisco de Souza e buscar a lendária serra do Sabarabuçu. Essa expedição alcançou Paraty, galgou a serra do Mar, atravessou o planalto de Cunha e alcançou as margens do Rio Paraíba do Sul. Seguindo pelo mesmo subiu a Mantiqueira e chegou até o rio Sapucaí de onde retornou para o Rio de Janeiro. Desta expedição participou o inglês Anthony Knivet, prisioneiro e serviçal de Martim de Sá. De volta para a Inglaterra em 1625 publicou suas narrativas sobre a expedição de 1591. Nele descreve com detalhes episódios interessantes da viagem, relata os feitos no sertão e a caça aos índios, assinalando os caminhos percorridos. Segundo seu diário partiram do Rio de Janeiro em outubro de 1596 em muitas canoas em direção a Paraty. Depois de alguns contratempos deram início a jornada por terra. Com muitos flecheiros e guiados pelos índios viajaram quarenta dias por vales e serras até chegar ao rio Paraibuna e depois ao rio Paraíba onde encontraram peixe em abundância. A expedição “teria descido a Mantiqueira pelos campos de Maria da Fé e pelo vale de Lourenço Velho, em direção a Itajubá, chegando às margens do rio Jaguari, onde encontraram as aldeias, abandonadas pelos tamoios”. (Pasin, 2004, 30) Deste local reiniciaram a viagem de volta para o Rio de Janeiro.
Outra entrada enviada para o sertão pelo governador D. Francisco de Souza foi a de André Leão. Ela partiu de São Paulo em 1601 acompanhada pelo mineiro Wilhelm Jost tem Glimmer, que deixou o registro da expedição.
Segundo o roteiro de Glimmer editado em 1648 eles partiram de São Paulo, como sempre acompanhando o curso do rio Tietê, passaram para o rio Paraíba até atingir Cachoeira Paulista e daí seguir rumo a Mantiqueira até atingir as cabeceiras do Rio São Francisco. Deixou registrado que em toda jornada não haviam encontrado “nenhum terreno cultivado avistamos, não encontramos vivalma, unicamente aqui e ali algumas ruínas de aldeias, nada de víveres, a não ser a grama e alguns frutos silvestres.” (In Pasin, 2004, 35) Depois de nove meses retornaram a vila de São Paulo sem nenhum resultado concreto do achado do ouro.
Para saber mais:
– PASIN, José Luiz. Algumas notas para a História do Vale do Paraíba. Desbravamento e povoamento. São Paulo: Conselho Estadual da Cultura, 1977.
– As incríveis aventuras e estranhos s incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet nfortúnios de Anthony Knivet. 2007. Anthony Knivet. Disponível: https://zahar.com.br/sites/default/files/arquivos/t1115.pdf
– – Anthony Knivet e a região do vale do Paraíba. Almanaque Urupes, dezembro de 2012.
Disponível em: http://www.almanaqueurupes.com.br/portal/textos/anthony-knivet-e-a-regiao-do-vale-do-paraiba/