#tempodemovimento | Parte V – Do Planalto para o Vale do Paraíba | A família Leme

A partir das primeiras décadas dos seiscentos várias famílias se deslocaram da vila de São Paulo e de seu entorno, incentivadas pela doação de terras promovido pela administração portuguesa.  Entre elas, personagens de destaque nestes primeiro tempos de ocupação e povoamento da região do Vale do Paraíba figuram os membros da família Leme.  Não foram poucos e são facilmente reconhecidos pela presença e importância principalmente na área compreendida a partir da vila de Taubaté, em direção NE, até a vila de Guaratinguetá.

Brasão da família Leme

Os Leme migraram para o Vale do Paraíba junto com os Félix e os primeiros colonizadores.  Eram todos descendentes de Antão Leme e de seu filho Pedro Leme, portugueses que chegaram a São Vicente na segunda metade do século XVI, entre os anos de 1554 a 1550.  Eram, como os   Félix, descendentes de flamengos.  Os Leme descendiam da antiga e rica família dos Lems, possuidores de muitos feudos na cidade de Bruges, do antigo condado de Flandres, nos países baixos. Martin Lem (ou Martim Lems), rico mercador, nascido e morador de Bruges em 1456 passou a ter seus negócios em Portugal onde ficou sendo chamado de Martim Leme.

Pedro Leme, descendente de Martim Lems, proveniente da Ilha da Madeira chegou a São Vicente por volta de 1550 e veio a falecer na vila de São Paulo no ano de 1600.  Foi pessoa de destaque com posse de bens e exerceu importantes cargos públicos nestas vilas.  Em Portugal contraiu casamento com Isabel Dias Pais com quem teve um filho Fernão Dias Pais.  Na Ilha da Madeira, contraiu um segundo matrimônio com Luzia Fernandes e teve uma filha Leonor Leme.  Em São Vicente contraiu um terceiro casamento com Gracia Rodrigues de Moura, sem deixar descendência.

Em São Vicente, a filha que o acompanhou na travessia, sem a mãe já falecida, contraiu matrimônio como Braz Teves ou Esteves, abastado senhor de engenho.  Desta união vieram cinco filhos: Pedro Leme, Matheus Leme, Aleixo Leme, Braz Esteves Leme e Lucrecia Leme.  Esta última, a caçula da família casou-se com o tio que viera de Portugal, Fernão Dias Pais, irmão de sua mãe por parte de pai.

Do casamento de Lucrecia Leme com o tio Fernão Dias Pais nasceram sete filhos que também tiveram grande importância na vida de São Paulo e depois do Vale do Paraíba, a saber: Isabel Dias; Leonor Leme; Fernão Dias Pais Leme, pai do famoso bandeirante homônimo; Pedro Dias Pais Leme, Maria Leme casada com Manoel José Branco; Luzia Leme, denominada de “grande matriarca” que foi casada com Pedro Vaz de Barros; e Luiz Dias Leme.

Portanto, todos os membros da família Leme que migraram para o Vale do Paraíba são descendentes diretos, netos e bisnetos, de Leonor Leme, filha de Pedro Leme e de seu segundo casamento com Luzia Fernandes.

Para alguns historiadores, como Anita Novinski tinham descendência judaica, como afirma: “entre os bandeirantes, eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão Dias Pais e Brás Leme.”.  Motivo pelo qual Fernão Dias, filho de Pedro Leme em uma discussão de rua ter sido chamado de “cão judeu”, em pleno centro da vila de São Paulo.

Da respeitada matriarca Leonor Leme, moradora da vila de São Paulo, para onde se mudou com o marido e os filhos seguiu uma notável descendência de bandeirantes, homens abastados, fundadores de cidades como Guaratinguetá e Pindamonhangaba no Vale do Paraíba e tantas outras como as cidades de Campinas, Curitiba, Porto Alegre e uma dezena delas em Minas Gerais. Posteriormente aparecem barões, condes e pessoas de importância na vida política e econômica do país.  Leonor Leme foi contemporânea do Santo José de Anchieta que serviu de guia espiritual para seu filho Aleixo Leme.  Também de sua descendência figura o primeiro santo brasileiro São Frei Antônio de Sant’Ana Galvão.

Para alguns historiadores, como Anita Novinski tinham descendência judaica, como afirma: “entre os bandeirantes, eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão Dias Pais e Brás Leme.”.  Motivo pelo qual Fernão Dias, filho de Pedro Leme ter sido chamado de “cão judeu” em pleno centro da vila de São Paulo.

 

Para saber mais:

– Origem da família Leme.  Os primeiros paulistas.  Disponível em: https://capitaodomingos.com/0-o-livro-dos-leme/

– A importância da Família Leme para a colonização do Brasil.  Disponível em : https://capitaodomingos.com/0-a-importancia-da-famlia-leme-para-a-colonizacao-do-brasil/

– Bandeirantes Bandeirantes tinham origem judaica.  Mário Cesar Carvalho.  Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u99146.shtml

 

 

 

A família Leme: Domingos Luís Leme

Domingos Luis Leme, o fundador de Guaratinguetá, era bisneto de Leonor Leme.  Era filho de Antônio Lourenço (1574-1658) casado com Marina Chaves, falecida em 1615.  Sua mãe era filha de Matheus Leme, o terceiro filho da matriarca dona Leonor. Por parte de pai era descendente de Domingo Luis, (1547-1615), importante cidadão da vila de São Paulo, falecido em 1615 e fundador da capela de Nossa Senhora da luz, conhecido pela alcunha de “o carvoeiro”. Dele herdou seu nome. O filho de Domingos Luís, Antônio Lourenço tornou-se o administrador da dita capela com os encargos de beneficiar, conservar e celebrar festividades e os ofícios religiosos na mesma capela.

Domingos Luis Leme nasceu em São Paulo por volta de 1615, ano de falecimento de sua mãe e do avô paterno.  Nesta mesma vila se casou no ano de 1638 com Anna Cabral, filha Manuel da Costa Cabral natural da Ilha de Santa Maria e de sua mulher Francisca Cardoso. Passou para o Vale do Paraíba acompanhando Jacques Félix onde teve participação ativa na exploração e organização do território.

Inicialmente se fixou em suas terras próximo a vila de Taubaté.  Possuía sesmaria em Pindamonhangaba e no ano de 1643 recebeu sesmaria nos sertões de Guaratinguetá, que já havia conhecido em incursões anteriores. Mais tarde recebe também terras no caminho novo para o mar em direção a atual cidade de Cunha.

Com ele outros membros da família Leme estabeleceram na nova área de fronteira que ia se formando. Dentre eles sua irmã Maria Leme de Chaves casada com João do Prado Martins e os irmãos por parte de pai, oriundos do segundo casamento de Antônio Lourenço: Antônio Lourenço Cardoso e Antônio Cardoso. Seu sogro mudou- se também para a região e foi o fundador do povoado de Tremembé.  O seu cunhado, Domingos da Costa Cabral teve importante e decisivo papel na expansão da colonização ao abrir novo caminho para o mar ligando o povoado de Guaratinguetá ao caminho que atravessava o planalto de Paraitinga e dava acesso a Paraty.

Com a melhoria da comunicação com o litoral e o aumento do movimento de pessoas e de mercadorias o burgo inicial de Guaratinguetá ganhou importância e que permitiu promover sua elevação a vila no ano de 1651, apenas 5 anos após a criação da vila de Taubaté.  Domingos Luis, foi o encarregado da criação e organização do novo povoado e  ali continuou a residir em suas terras.  Faleceu em 19 de abril de 1674.

 

 

Para saber mais:

– Povoadores de São Paulo – Domingos Luís “O carvoeiro”.  Adendas às primeiras gerações. Helvécio V. Castro Coelho. Disponível em:

http://www.asbrap.org.br/documentos/revistas/rev9_art9.pdf

 

 

 

 

A família Leme: Braz Leme

Neste tempo de movimento, com o início da colonização da área compreendida entre o povoado de Guaratinguetá e a vila de Taubaté, chegaram novos povoadores membros da família Leme.  Como Domingos Luis Leme, receberam sesmaria, tornaram se proprietários e pessoas proeminentes neste início da colonização da região do Vale do Paraíba.

Para a área próxima à Guaratinguetá se deslocaram de São Paulo os irmãos Braz Esteves Leme e Matheus Leme do Prado.  Eles eram filhos de Pedro Leme, ouvidor da Capitania, casado com Helena do Prado e netos de Leonor Leme.  Eram primos em segundo grau de Domingos Luis Leme.

Braz Esteves Leme nasceu por volta de 1605 em São Paulo e em 1647 recebeu uma sesmaria na paragem de Itaguaçutiba, atual bairro do Itaguassu, no atual município de Aparecida onde constituiu fazenda e grande fortuna.  É considerado um dos desbravadores da área e um dos fundadores da vila de Guaratinguetá, que ficava a aproximadamente a uma légua de sua fazenda.  Nesta vila exerceu o cargo de Juiz Ordinário e de Órfãos em 1657.  Foi sertanista participando de excursões pelo sul de Minas Gerais na última década dos seiscentos. Com ele veio seu genro Antônio Zouro de Oliveira recebedor de outra sesmaria.

Braz Esteves Leme foi casado com Margarida Bicudo de Brito dos quais nasceram os filhos: Bras Esteves Leme, o moço e Antônio Bicudo Leme.

Bras Leme, “o moço”, nasceu em Santana da Paranaíba em 6 de maio de 1632. Foi residir em Taubaté por volta de 1660 e em 1680 recebeu data de terras nos arredores de Pindamonhangaba. Por este tempo fez erigir com o irmão Antônio Bicudo Leme a matriz velha, sob a invocação de São José, do qual eram devotos.  Tornou-se dono de grande fortuna tendo sido escolhido e assumido o cargo de Alcaide Mór em 1696. Foi casado pela primeira vez com Maria Raposo do Rego Barbosa em São Paulo e pela segunda vez com Maria da Luz Correa. ( Bogaciovas, 2015, p.195)  Faleceu em Pindamonhangaba em 1702

 

Para saber mais:

– Capitão Brás Esteves Leme.  Geneare.  Disponível em: http://www.genearc.net/index.php?op=ZGV0YWxoZVBlc3NvYS5waHA=&id=Nzc2Mw

 

 

 

A família Leme: Matheus Leme

Mateus Leme do Prado,  nasceu em São Paulo por volta de 1604 e foi morar  em Guaratinguetá onde faleceu em 1661.  Mudou-se para o bairro das pitas, próximo da vila de Guaratinguetá, no ano de 1658.  As suas terras, cujos sertões atingiam o ribeirão dos Motas,  ficavam localizadas entre as terras do primo Domingos Luis Leme em Guaratinguetá e do irmão Braz Esteves Leme no bairro do Itaguassu.

Foi casado pela primeira vez, no ano de 1642, em São Paulo, com Beatriz Barbosa do Rego, filha de Diogo Barbosa do Rêgo e de sua esposa Branca  Raposo.  Do casal nasceram cinco filhos: Lucrecia Leme Barbosa casada em 1676 e que acabou indo com o marido para o sul onde fundaram Porto Alegre; Pedro Leme do Prado casado com Francisca de Arruda Cabral, pais de Francisco Barreto, considerado o fundador de Campinas; Francisca Leme do Prado; Branca Raposo; e, Filipa Leme.

Parte de sua sesmaria seria mais tarde doada pelos seus descendentes para constituir o patrimônio religioso da venerada Nossa Senhora da Aparecida. “O morro dos coqueiros” onde sua família construiu a primeira capela, no local hoje fica a “Basílica Velha” e o “morro das pitas” onde se ergueu o Santuário Nacional de Aparecida, visitado atualmente por milhões de peregrinos.

Mateus Leme do Prado era devoto do santo de seu nome e por isto instituiu imagem em louvor a São Mateus, na capela em Guaratinguetá com a obrigação perpétua de se celebrar anualmente uma missa cantada com todas as demais festividades, no dia de sua invocação.

 

 

 

A família Leme: Francisco João Leme

A ocupação do território além da vila de Taubaté acompanhando o curso do Rio Paraíba do Sul se completaria com a vinda de outro primo do fundador de Guaratinguetá, Francisco João Leme (1640 – 1679), outro bisneto de Leonor Leme.  Ele era filho de Maria Leme e neto por via materna de Lucrecia Leme casada com Fernão Dias Pais.

Maria Leme foi casada com Manoel João Branco, proprietário de terras em São Paulo, possuidor de moinho de trigo que ocupou o cargo de administrador das Minas de São Paulo. Para realizar seu desejo viajou para Portugal para presentear a El Rei com um cacho de banana, feito de ouro maciço.  Como compensação recebeu uma sesmaria medindo 11 léguas de terra em quadra, localizada em terras após a vila de Guaratinguetá, no sertão, na região de Guaypacaré.  As terras recebidas ocupavam “em medidas atuais, a fantástica área superior a 5.270 Km2, o que corresponde a uma área maior que de muitos países. (Barbosa,2008,24)

Para ocupar-se de sua propriedade herdada do pai, Francisco João Leme fixou-se na vila de Guaratinguetá numa fazenda onde possuía muitos  indígenas que havia aprisionado em suas incursões pelo interior de Minas com o objetivo de descobrir riquezas minerais.  Faleceu em 1679 em Portugal.

Os  Leme, proprietários de terra, de escravos, símbolos da riqueza da época pertenciam a categoria dos “homens bons” ocupando os vários e importantes cargos administrativos.  No período posterior a fundação da vila de Guaratinguetá, em 1651 até o final deste século foram os homens de destaque na vida pública de Guaratinguetá.  Ocuparam o cargo de Juiz Ordinário: o capitão Braz Esteves Leme (1657); capitão Mateus Leme do Prado (1658); e, Bras Esteves Leme, “o moço” (1696), que se tornou alcaide mor. Além deles outras pessoas ligadas por laços de parentesco: capitão Diogo Barbosa do Rego, sogro de Mateus Leme do Prado (1660); capitão Baltazar do Rego Barbosa filho do anterior e cunhado de Mateus Leme do Prado (1663); e capitão Henrique Tavares da Silva (1668), o qual viera de Portugal na condição de degredado por crimes contra a fé católica e que no Brasil casou com Mariana Bicudo de Brito natural de Santana da Parnaíba.

Para saber mais:

– O Visconde de Guaratinguetá.  Carlos Eugênio Marcondes de Moura.  Disponível em:

https://books.google.com.br/books?id=dsE0I9mefEsC&pg=PA184&lpg=PA184&dq=Guaratingueta+%2B+Francisco+Jo%C3%A3o+Leme&source=bl&ots=uXVmRvs2bP&sig=5L2i0p3Hv9v-