#tempodemovimento | Parte III – A Vila de São Paulo e a expansão paulista | O bandeirantismo

A partir de D. Francisco de Souza as bandeiras adquiriram novas formas de organização.  Elas passaram a ter feição militar, subdividindo-se em colunas e obedecendo a hierarquia. Organizavam-se expedições destinadas à descoberta do ouro e das riquezas minerais, contando com os incentivos da Coroa portuguesa.  As entradas, de iniciativa oficial, até então mal organizadas e sem roteiros pré-estabelecidos, tomaram o caráter de bandeiras.  Estas, disciplinadas com estandarte, feitio militar, ouvidores do campo, escrivães e capelania eram mais livres e podiam ser empreendimento de iniciativa oficial ou particular.

A bandeira era uma unidade confiada a um chefe superior, o qual, por sua vez, executava os objetivos delineados. As companhias eram entregues aos oficiais de patentes menores.  Em sua organização e nas incursões pelos sertões apresentava o caráter do seu ineditismo, autonomia em relação ao Estado e o espírito empreendedor do paulista.  O sistema se enquadrava nos moldes da infantaria, em vista da distância a percorrer e dos suprimentos, da topografia do terreno e da necessidade de, às vezes, subir ou descer rios.  A bandeira, pela dificuldade em se manter nos sertões, compunha-se de pouca gente, ainda porque a população branca do planalto era escassa.

“Os paulistas, como dizia um jesuíta espanhol, faziam-se bandeirantes desde menino, aprendendo como os pais e com os índios da casa a arte do sertanismo” (Salvador, 1976, p. 291) Os indígenas eram sempre em maior número nas bandeiras.  Devido a sua importância fundamental nas idas para o sertão.  Nos testamentos recomendam aos herdeiros que tratassem bem os “serviços” ou “peças”; que não separassem os casais nem os filhos dos seus progenitores.

“O bandeirismo era uno em seu caráter. Pode-se dizer que era o sistema de vida dos habitantes do planalto no século XVII.” (Salvador, 1976, p.290) Teve início com o apresamento de indígenas, evoluiu até o tipo de organização que desmantelou as reduções jesuíticas do Paraguai.  Em 1632 todas as missões do Guairá estavam destruídas. Há de se lembrar  a expedição de 1628 ao Guairá, de que participaram Antônio Raposo Tavares e Manuel Preto, ou as chefiadas por Raposo Tavares em 1636 e por Fernão Dias em 1638 no sul.  Elas foram decisivas ao processo de acumulação de riquezas e aparecimento de fortunas no período.

O sertanismo paulista se acentuou a partir de então.  Bandeirantismo e sertanismo passaram a ter o mesmo significado, ou seja, as atividades voltadas para o interior com objetivo de encontrar metais preciosos e caçar indígenas em amplas regiões do território brasileiro.

As investidas dos paulistas pelos sertões durante o século XVII foram realizadas simultaneamente atendendo aos interesses dos colonos e da Coroa.  Se por um lado a Coroa estimulava a busca de metais preciosos, por outro lado os colonos paulistas, além disso, buscaram uma saída para as dificuldades enfrentadas no planalto e assim poder ajustar a economia local ao sistema colonial português. Foi na prática uma adaptação à formação peculiar, diferenciada com relação às áreas exportadoras escravistas.

Disto, resultaram novos entendimentos sobre o bandeirantismo.  Como escreveu Carlos Davidoff, “O bandeirante foi fruto de uma região marginalizada, de escassos recursos materiais e de vida econômica restrita, e suas ações se orientaram no sentido de tirar o máximo proveito de brechas que a economia colonial eventualmente oferecia… “ (Davidoff, 1982; Apud Lima, 2011,29)

 

Os bandeirantes, sertanistas do século XVII e suas indumentárias

 

Para saber mais:

-Bandeirantismo: verso e reverso. Carlos Davidoff. São Paulo: Brasiliense, 1982. (Coleção Tudo é História)