As bandeiras devassaram sertões, abriram caminhos pelo interior, ampliaram as fronteiras do país para além das 370 léguas acordadas no Tratado de Tordesilhas pelas coroas Ibéricas em 1494 e prepararam o terreno para futuras descobertas das minas de ouro.
Os bandeirantes passaram a serem reconhecidos como homens destemidos, conquistadores, aventureiros, dotados de espírito de liberdade e autonomia, que agiam motivados pelo desejo de riquezas e poder.
Assim emergiu, nas palavras de Saint Hilaire, a “raça de gigantes”. Fruto de uma nova raça representada pelo mameluco paulista favorecida pela capacidade, iniciativa e tenacidade paterna e a resistência física e a sabedoria dos ancestrais indígenas herdada das mães. O bandeirante passou a ser visto na historiografia brasileira como símbolo e representante da própria identidade do paulista.
Em versões mais recentes, influenciadas entre outros pelos estudos de Jonh Monteiro os bandeirantes passaram a ser entendidos como colonos que premidos pelos condicionamentos do meio e pela necessidade crônica de mão de obra indígena encontraram saída para garantir a sobrevivência e manter a economia paulista integrada ao sistema colonial brasileiro. E que, ao mesmo tempo, participaram do jogo de interesses manifestado pela Coroa Portuguesa partindo para encontrar riquezas minerais e a caça aos indígenas.
Por outro lado, a atuação dos bandeirantes provocou muitas reclamações e denúncias. Elas foram feitas contra os excessos praticados e heresias cometidas durante as suas destemidas aventuras e na ação de caça aos indígenas marcado pela violência que permeou a relação entre eles e os gentios da terra.
A afirmação do Jesuíta Mansilla, no início do século XVI, ilustra o que povoava o imaginário dos membros desta ordem religiosa radicados no sul do continente: “No Brasil existe uma cidade chamada São Paulo, e nesta se há juntado um grande número de homens de diferentes nações, ingleses, holandeses, judeus que, em liga com os da terra, como lobos raivosos, fazem grandes estragos no novo rebanho de Vossa Santidade.” (in Toledo, 2012, p. 155)
Para saber mais:
– Raça de Gigantes: a civilização no planalto paulista. Alfredo Ellis Júnior. São Paulo: Editora Helios Limitada, 1926.