#tempodemovimento | Parte III – A Vila de São Paulo e a expansão paulista | 1640: agitações e tensões

O ano de 1640 foi marcante para a história de São Paulo.  Vários acontecimentos agitaram a pequena vila e seus arredores.  Entre eles a expulsão dos jesuítas, como foi exposto anteriormente, a Restauração portuguesa, a aclamação de Amador Bueno e a eclosão do conflito entre os Pires e os Camargos.

A Restauração portuguesa pôs fim à unidade política que regeu a península ibérica a partir da crise da sucessão portuguesa em 1580.  A partir de então houve a união entre as duas monarquias e de suas respectivas possessões coloniais, sob o controle da monarquia espanhola.  Durante o período reinou a dinastia Filipina.  O ano de 1640 é o ano da Restauração que marcou a dissolução desta união e a volta da autonomia da Coroa portuguesa.  Este movimento levará ao trono D. João IV, duque de Bragança.  Como não poderia deixar de ser, houve grande repercussão nas colônias portuguesas.

O movimento que resultou na Restauração ocorreu em dezembro de 1640.  O conhecimento do fato só chegou aos moradores da vila de São Paulo no ano seguinte, em 1641, durante o mês de março.  Em meados do mês seguinte um novo fato agitou a vila com a aclamação por parte de seus habitantes de um novo rei.   Um paulista, homem rico e estimado, Amador Bueno.

 

Aclamação de Amador Bueno de Oscar Pereira da Silva

 

Amador Bueno “o aclamado” passou para a história como o homem que não quis ser rei (Toledo, 2012, p.57) Ele era filho de espanhol e chegou a São  Paulo, vindo do Paraguai “nos anos 1620 e 1630, por motivos obscuros, talvez por ter origem judaica e ser perseguido pelo Tribunal da Inquisição sediado em Assunção”.  (apud Toledo, 2012, p. 168) Ali adquiriu fortuna e prestígio tendo ocupado vários cargos inclusive o de capitão mor da Capitania de São Vicente, na década de 30.  Aclamado nas ruas da vila com gritos de “Viva Amador Bueno, nosso rei” preferiu refugiar-se no Mosteiro de São Bento e depois, no dia seguinte, evadiu para Santos onde permaneceu até que os ânimos fossem acalmados.   Os paulistas, entre eles portugueses e espanhóis, cristãos velhos e novos, perderam a oportunidade de iniciar um processo mais incisivo de autonomia em relação à metrópole portuguesa.

A denominada guerra entre os Pires e os Camargos teve início com o desentendimento entre Pedro Taques e Fernando de Camargo no largo da Matriz, diante da porta da igreja.  Depois de se estranharem seguiu-se uma violenta luta entre eles e com seus respectivos parentes, aliados e indígenas.  A confusão foi se alastrando pelo centro da vila que foi tomada por uma batalha campal.  No ano seguinte no mesmo largo da matriz ocorreu outro encontro entre os dois protagonistas.  Desta vez Fernando de Camargo enterrou uma adaga nas costas de seu oponente, matando-o. O conflito teve continuidade, cheio de violência, mortes e tensões que marcou a história da vila pelas décadas seguintes.

Para saber mais:

–  A rochela do Brasil: São Paulo e a aclamação de Amador Bueno como espelho da realeza portuguesa.  Rodrigo Bentes Monteiro. In:  https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18881