#tempodemovimento | Parte III – A Vila de São Paulo e a expansão paulista | Em busca da “montanha dourada”

A vila de São Paulo de Piratininga, apesar de apresentar caráter original e singular, fazia parte do contexto colonial brasileiro, subordinada às ordens e interesses da administração portuguesa.  Toda a sua formação esteva ligada as iniciativas das autoridades portuguesas.  Começou com Martim Afonso de Souza, que realizou as primeiras investidas no planalto.  Depois, com as iniciativas do Governo Geral, representantes de Portugal no Brasil. Tomé de Souza em abril de 1553 fundou a vila de Santo André a Borda do Campo; durante o governo de Duarte da Costa foi criado o colégio dos jesuítas, em janeiro de 1554.  E, coube ao terceiro Governador Geral, Mem de Sá, em 1560, decidir pela transferência da vila de Santo André para a de São Paulo.

Novo e significativo impulso à vida na vila foi realizado pelo sétimo Governador Geral do Brasil, D. Francisco de Souza (1591- 1602) ao estimular as expedições que consolidaram a vocação para o sertão e o desenvolvimento do bandeirantismo.  Motivo pelo qual ele é reconhecido em parte na historiografia paulista como o “pai do bandeirismo” ou como “marco zero do bandeirantismo”.

  1. Francisco de Souza, fidalgo português, era um homem habilidoso, bem relacionado na corte e ambicioso. Devido ao seu comportamento afável e adaptável, além da habilidade em negociar com as pessoas, acabou por ser conhecido pelo apelido jocoso “Francisco das Manhas”, expressão que seria associada em dicionário à “destreza no manejo dos negócios”.

Ao tomar posse em Salvador, no dia 9 de junho de 1591, estava decidido a descobrir minas de ouro no Brasil. Ampliaram ou seu desejo as suspeitas sobre a existência de metais preciosos na Capitania de São Vicente e cercanias de São Paulo,  com amostras de ouro encontradas e remetidas desde a década de 1550, além das lendas de origem tupiniquim sobre o Itaberaba-açu, a Serra do Sabarabuçu, ou “montanha resplandecente”, ou ainda “montanha dourada”, que alimentavam o imaginário e a cobiça dos portugueses na esperança de encontrar metais como na América Espanhola.  Durante o período em que permaneceu na Bahia, fez realizar entradas aos sertões em busca da “montanha dourada.”

Foi em outubro de 1598 que D. Francisco iniciou sua viagem rumo à capitania de São Vicente. Depois de passar por Vitória, Rio de Janeiro e São Vicente, chegou a São Paulo em maio de 1599.  Ali permaneceu até o ano de 1604.  Ou seja, morou na vila durante os dois últimos anos do seu governo e mais dois anos após o término de seu mandato.

Durante sua estadia em São Paulo sua atuação foi marcante: dinamizou a economia, regulou a vida cotidiana, criou cargos, ofícios e promoveu alianças familiares.  Em função de seu “sonho dourado” foi–lhe permitido “trazer do reino a quantos homens da nação hebraica lhe parecessem necessário,” (Salvador, 1976, p. 139) provocando novo surto imigratório de cristãos novos para o planalto de Piratininga.

A decisão de se estabelecer na vila de São Paulo era por ser a mesma considerada como o melhor ponto de partida para as buscas de riquezas do sertão.  A obsessão por riquezas minerais, que não era apenas de sua exclusividade, fez despender suas energias e recursos de que dispunha.

Dom Francisco voltou para Portugal em 1602.  Deixou delineadas às diretrizes da expansão paulista no século XVII que se iniciava em direção da região Paraná – Paraguaia e às Minas Gerais tendo, para isso, devassado o vale do Rio Paraíba do Sul.  Ainda retornaria à vila de São Paulo no ano de 1609 para exercer o posto de capitão geral das Minas e governador da “Repartição Sul” que incluía as capitanias do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Vicente. Posto para o qual foi nomeado no ano de 1608, com jurisdição criada especialmente para ele. Voltou com poder de distribuir mercês, títulos e perdão a degredados. Sem conseguir encontrar as riquezas minerais que sempre buscou, veio a falecer dois anos depois de sua volta, em 1611, pobre e desgostoso.

A partir do governo de D. Francisco a vila de São Paulo, de posto avançado no processo de colonização portuguesa, transformou-se  em polo para o processo de continuidade do movimento de expansão europeia no centro sul do país.

Para saber mais:

– As controvertidas minas de São Paulo (1550-1650).  José Carlos Vilardaga.  In:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752013000300008