A partir do movimento de expansão paulista foram criadas novas vilas próximas a São Paulo e nelas era notória a presença de cristãos novos. Na vila de Santana da Parnaíba, por exemplo, fundada pelo cristão novo e bandeirante André Fernandes em 1625, havia muitos deles.
Na vila de Santana da Parnaíba, por exemplo, fundada pelo cristão novo e bandeirante André Fernandes em 1625, havia muitos deles.
Um dos mais conhecidos foi Gonçalo Simões Chassim, português nascido em 1636. No Brasil se casou com Maria Leme de Brito, em 1659, ou Maria Leme Avarenga que era natural de SP ou Santana da Parnaíba. Maria Leme era filha de Antônio Bicudo de Brito e de sua mulher Maria Leme de Alvarenga e veio a falecer em 1688. O seu irmão Geraldo Simões Chassim se estabeleceu primeiramente em São Paulo e depois em Santana de Parnaíba, com grossa fazenda de cultura e tendo ocupado vários cargos de governo. Foi fundador da capela de N. S. de Nazaré, construída na mesma fazenda à margem do Rio Tietê.
Eram também cristãos novos o Padre Isídro Pinto de Godoy, vigário de Santana de Parnaíba e os membros da família Rocha do Canto de Santana de Parnaíba, de apelido Rocha e Canto.
Na vila de Itú residia Inácio de Almeida Lara da Vila, que em 1716 foi acusado de viver na Lei de Moisés. Ele era neto materno do Capitão Pedro Leme do Prado e de Maria Gonçalves Preto.
Entre os cristão novos havia: mercadores, produtores rurais, clero e membros de outras profissões, como médicos; barbeiros, muito comum entre os cristão novos na vila de São Paulo (MB, 2015,431) O ofício de barbeiro, segundo o Dr. Lycurgo de Castro Santos Filho, “ tinha por função, nos séculos XVI e XVII, praticar pequenas cirurgias, que consistia em escarificar, aplicar ventosas, sanguesugas e clisteres, lancetar abscessos, fazer curativos, excisar prepícios, tratar de mordeduras de cobras, arrancar dentes, etc. (in História Geral da Medicina Brasileira, 2vol., 1991- vol 1º. , p. 118- 340) Somente por volta de 1591 é que SP teve a felicidade de conhecer o barbeiro Antônio Rodrigues, elemento bem experiente no ofício e que o desempenhou por mais de trinta anos. “Outros que se dedicaram à mesma tarefa, se, por ventura não receberam dele o ensino, como João da Costa (c 1623) e Mateus Leme (c 1628), submeteram-se, pelo menos, ao seu exame.” (Salvador, 1976, p. 222)
Mesmo entre o clero cristão havia muitos sacerdotes de origem judaica. Uma situação que “chegou a causar alarme; pois se dizia com justas razões, que a maioria das igrejas estavam supridas por eles e que muitos não levavam a sério a vocação. Inúmeras famílias israelitas dedicaram filhos à vida eclesiástica; uma porque se tinham convertido ao cristianismo; outras para se acobertarem contra perseguições. O clero gozava de muito privilégios, além de cultura regular e posição social”. (Salvador,1976, 233)
Os cristãos novos ao chegaram ao Brasil traziam uma mentalidade muito crítica em relação ao mundo do catolicismo. Não gostavam de confessar, desprezavam as imagens existentes nas Igrejas, tinham aversão à idolatria. Mas procuravam não aparecer para não levantar suspeitas, construíam igrejas, tinham seus santos como em Portugal. Adotavam certas orações da liturgia católica, mas se recusavam a concluí-las em nome da Trindade, e de igual modo, os Salmos. Não trabalhavam aos sábados, não comiam carne de porco, nem peixe de pele e vestiam roupas limpas e brancas às sextas-feiras. Perseguidos não puderam trazer consigo seus livros, nem guardar suas rezas.
Assim, por séculos, a tradição judaica foi mantida e preservada entre quatro paredes, gerando uma “cultura do segredo”, no âmago da família, para não atrair a perseguição do Santo Ofício. Valiam-se apenas da memória e do contado com novos imigrantes. Por isso, eles foram se esquecendo das datas, das festas, dos costumes e das práticas judaicas. Por diversas maneiras muitos não deixaram de cultivar a lei de Moisés, mantendo-a apenas de forma bastante simplificada por meio de conversas, a sós, ou em pequenos grupos; nas confrarias religiosas; nas capelas e no recesso dos lares.
Em Portugal, para Carlos Eduardo de Castro Leal, “os marranos se diferem como judeus e desta forma são identificados pelas comunidades no interior das quais vivem. Um sinal de diferença é o pertencimento à comunidade define-se por meio do exercício de uma prática religiosa secreta cujo acesso é dado pelas normas que regem a estrutura de parentesco do referido grupo. Fato que será observado posteriormente no Vale do Paraíba e em Minas Gerais. Como se afirmava na época: “eles tem lá a religião deles”.
Ao final do século XVI a expansão com o movimento bandeirista, aliado ao relativo domínio da região, permitiu a ascensão social dos primeiros imigrantes portugueses, em número considerável de origem judaica, conhecidos como cristão novos ou marranos.
Uma vez fazendo parte da elite paulista, a população cristã nova se inclinou para apagar da memória suas raízes judaicas. Que, no entanto, continuaria viva com a entrada de novos contingentes de cristão novos no país e em São Paulo. Os efeitos contraditórios da Inquisição acabaram por contribuir para a afirmação do judaísmo ao reintroduzir orações e práticas judaicas.
Para saber mais:
– Os cristãos novos no Brasil colonial: reflexões sobre a questão do marranismo. Anita Novinsky. In: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg11-5.pdf