Na Vila de São Paulo e seus arredores existiam diversos grupos indígenas que ali habitavam ou que com frequência por ali transitavam. O Padre Baltazar Fernandes observou que “ao redor desta Piratininga umas duas ou três léguas há seis aldeias de índios, da terra.” (Apud Bogaciovas,2015, 83)
Dentre os grupos mais influentes estavam os tupiniquins e os guaianases que vivam em aldeias ou tabas.
Os tupiniquins, pertenciam à nação Tupi e habitavam no século XVI a baixada santista e o planalto paulista. Com frequência passavam temporadas no litoral se dedicando a pesca. Foram os que tiveram o primeiro contato com as naus portuguesas chegadas a São Vicente.
Os guaianases, também conhecidos por guainás, povoaram o planalto no século XVI. Um dos seus famosos chefes foi o cacique Tibiriça, considerado como o “senhor dos campos de Piratininga”, que teve papel relevante nos tempos da criação e no desenvolvimento inicial da vila de São Paulo.
Ao contrário das vilas litorâneas influenciadas pelos padrões de vida e hábitos europeus na vila de São Paulo, até por conta de seu afastamento no interior, predominava a influência dos costumes indígenas.
A língua tupi era largamente usada na comunicação entre os seus habitantes, mesmo entre as famílias de brancos mais abastados, pela influência da mãe índia e do grande número de mamelucos. A língua tupi somente seria superada pela língua portuguesa nos princípios do século XVIII, subsistindo sua influência até nossos dias nas atribuições de nomes de lugares como Anhangabaú, Piratininga, etc.
A alimentação era de índio. Predominava o uso do milho e da mandioca. Os pratos mais comuns eram a canjica e o angu, ambos feitos com o abundante e apreciado milho. Com a mandioca se fazia a “farinha de guerra”, (Toledo, 2012, p. 171) uma pasta de mandioca cozida que, enrolada em folhas, podia durar muito, e por isso era levada no bornal dos integrantes das entradas para servi-los no sertão e também pelos jesuítas em suas andanças pelo interior.
Aos cultivadores do milho bastava um esforço de 60 a 90 dias por ano para assegurar o plantio e a colheita com vista à sobrevivência dos grupos. Ele crescia rápido, em boas condições era colhido em três meses após a semeadura. Enquanto que para a ozicultura dos deltas da Ásia exigia dos camponeses do arrozal entre 120 a 130 dias de trabalho. Bem maior era a energia gasta pelos trabalhadores europeus primitivos na sua lida com a produção do trigo e da cevada. Além do que, para o nativo latino-americano e em especial, para os habitantes do planalto paulista, existia a floresta onde se podia colher os frutos e extrair raízes para alimentação. A sobrevivência dos grupos era favorecida ainda pela existência de numerosos rios que forneciam os peixes em abundância de fundamental importância para suprir a alimentação dos moradores do planalto.
Portanto, longe dos rigores do esforço do trabalho existentes em outros continentes os primitivos moradores do planalto faziam parte da “civilização do ócio.”, conforme denominada pelo historiador Pierrre Chaunu. (Chaunu,1969,21)
Para saber mais:
Os primitivos Habitantes do território paulista. Egon Schaden.
Revista USP – https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/36385/39105
+ Leia a primeira parte do livro na íntegra
+ Confira o primeiro capítulo de “O Paulista”
O Livro “Tempo de Movimento”, mostra como homens realizam a travessia em busca de novas oportunidades, participam do processo de colonização nas Américas, abrem caminhos, estabelecem novas fronteiras, dão origem a uma nova raça – a dos paulistas, formam a região do Vale do Paraíba Paulista e descobrem o ouro nas Minas Gerais. Os capítulos do livro são postados neste blog a cada terça e sexta-feira. Acompanhe!