#tempodemovimento | Parte II – O paulista | O sertanismo paulista

A familiaridade com o sertão teve início logo após a travessia dos europeus para o litoral de São Vicente. Derivou do incentivo das autoridades portuguesas que a partir da expedição de Martim Afonso de Souza enviou exploradores para o interior do país para reconhecer a terra e  buscar metais preciosos.  As histórias contadas por aqueles que voltavam aguçavam cada vez mais a curiosidade e a cobiça dos colonos. E assim, o sertanismo se  tornoue elemento central para a compreensão dos primórdios da formação de São Paulo.

O sertão passou a representar para os colonos a mesma atração que o mar exerceu para os portugueses.  “Diante do sertão, como diante do mar, é o mesmo assombro, é a mesma impressão do infinito e de eternidade, é a mesma vertigem” como escreveu José de Alcântara Machado, autor do clássico Vida e Morte do Bandeirante.  ( Apud Toledo, 2012,142)

No ideário do colonizador a expansão de fronteiras significou estender os limites da civilização europeia, além do qual se encontravam os povos bárbaros. Era fruto de uma cultura expansionista que buscava estender o domínio, o poder e o controle da Coroa sobre a terra e sua gente.  Ao contrário dos povos primitivos para os quais a fronteira era uma representação dos espaços em função do alcance da caça, da coleta, reservado para suas práticas sociais.

O que havia em comum era a ideia do movimento.  Um nomadismo que provocava deslocamento constante e a formação de novas fronteiras, adaptada às condições determinantes do território.  Na sua continuidade rompeu com a delimitação do espaço colonial português e ultrapassou os seus limites.

O sertanismo esteve ligado ao movimento de expansão de fronteiras, possibilitado pelo avanço pelas trilhas indígenas e pelos caminhos construídos pelo colonizador.  Esta atividade aproximou os homens do planalto às jornadas pelos sertões, marcou o imaginário e as práticas sociais do paulista.  Resultou em experiência histórica única que deu sentido à vida em São Paulo nos primeiros séculos de sua existência.

O bandeirante paulista no sertão. Quadro de Henrique Bernadelli.

Na prática do sertanismo “duas culturas em movimento se fundiram em São Paulo: a portuguesa e a indígena. De um lado, a força do enraizamento, da fixação. Do outro, o deslocamento, o movimento permanente como modo de vida. Uma fixa, o outro desloca, produzindo uma dinâmica social absolutamente original: a cultura e a civilização paulista”. (Arruda, 2011,128)

O paulista, o homem novo que emergiu, é o resultado deste tempo de movimento.