A vila de São Paulo “fundada terra acima e terra adentro” (Toledo, 2012, p.108) ao contrário de outros lugarejos do planalto que surgiam e estavam fadados a desaparecer foi se firmando no contexto da colonização portuguesa.
O dia 25 de janeiro de 1554, o dia em que foi celebrada a missa pelos jesuítas e instalado o Colégio de São Paulo, é comemorada como a data da fundação da cidade de São Paulo. No entanto, o seu início oficial ocorreu no ano de 1560 quando se deu a instalação da vila de São Paulo de Piratininga.
A vila nasceu diferente das congêneres litorâneas. Ela não foi inserida no modo de produção colonial. Desta forma não foi submetida ao regime de latifúndio, da monocultura açucareira e não esteve voltada para o mercado externo. Nem tampouco existia o “padre capelão” a serviço da casa grande e do senhor de engenho. (Hoornaert, 1974, p.76) Nem havia sacerdote encarregado de pastorear os fiéis. Existiam apenas os poucos jesuítas voltados para o trabalho de catequização dos indígenas e o ensino dos colonos que frequentavam o colégio. Os quais nem os portugueses os queriam aceitar, como registrou o padre José de Anchieta.
No planalto a nova vila encontrou condições favoráveis para se desenvolver durante o século XVI. Tinha vastas e excelentes terras para cultivar, extensos campos para a criação do gado e animais de pequeno porte. O padre José de Anchieta deixou outras ricas informações a este respeito ao escrever: “É terra de grandes campos, fertilíssima de muitos pastos e gados, de bois, porcos e cavalos, etc., e abastada de muitos mantimentos. Nela se dão uvas e fazem vinho, marmelo em grande quantidade e se fazem muita marmeladas, romãs, e outras árvores de frutos da terra de Portugal. Se dão rosas, cravinas, lírios brancos. É terra muito saudável onde vivem os homens muito, máxime os velhos.” ( Anchieta, Apud Bogaciovas, 2015, 84)
Era um burgo relativamente seguro. Situado em uma elevação, no meio de campos abertos e largos, vivia protegido pelos dois rios que passavam ao largo: o rio Tamanduateí e o Anhangabaú e a proteção providencial do cacique Tibiriça e de seu genro João Ramalho. De tal forma que por este tempo a vila de São Paulo “terá mais a cara de João Ramalho do que a de Anchieta ou Nóbrega… o espírito dos mamelucos caçadores de índios e desbravadores dos sertões.” (Toledo, 2012, p. 112)
Para reforçar a segurança face ao medo e dos perigos e a situação instável chegou a ter uma cintura de proteção formada por toscos muros de taipa de pilão e fileiras de estacas bem rudes que atormentavam os moradores na tarefa de sua manutenção. Com o passar dos tempos foram cessando as hostilidades indígenas e o muro foi perdendo a sua finalidade e acabou por ser destruído pela ação do tempo.
As suas casas eram construídas com taipa e paredes de barro, que passou a predominar no cenário da vila, sem a utilização de pedras como nas vilas litorâneas. Segundo o historiador Ernani Silva Bruno, a vila nos seus primeiros vinte ou trinta primeiros anos tinha o aspecto de “aldeia de bugre, ou arraial africano.” (Bruno, 1984, p. 118)
Durante os primeiros tempos a pobreza e o isolamento marcaram a vida da vila de São Pau. Como escreveu Roberto Pompeu de Toledo, a população da vila “vivia uma vida mais do que humilde de pequenas roças e pequenos expedientes, e tão alheada do resto do mundo … talvez seja recomendável adicionar um pouco de tristeza. Era um burgo solitário, o mais solitário de todos ” (Toledo, 2012, p. 127, 134) Acrescente ao isolamento a adaptação às condições impostas pela natureza. A convivência nos trópicos com a escuridão profunda e primitiva de suas noites. Também o silêncio impostos aos seus moradores dispersos em suas moradas.
Vivia-se na zona rural. As atividades eram voltadas para o serviço no campo. Somente por ocasião das festas e em ocasiões especiais se dirigiam à vila. Os moradores vestiam-se mal e pobremente devido aos parcos recursos e de acordo com a simplicidade do meio social.
+ Confira os capítulos anteriores de “O Paulista”