Os povos indígenas foram importantes na formação da família paulista. Desta forma, “frequentemente era uniões mestiças, no sentido de congregarem elementos oriundos de culturas indígenas (sobretudo a poligamia, e talvez a criação de filhos) e portugueses (casamento cristão, adultério e concubinato). Mas também porque homens solteiros, casados, machos brancos e machos negros pegavam mulheres negras, escravas, índias e brancas, termos que obviamente, não são desprovidos de significados variados dos de nosso mundo e frutos de relações contextualizadas.” (Godoy, 2017, 22)
Do relacionamento entre brancos e as índias resultou o predomínio das famílias com a prole constituída de mestiços. Mestiços entendidos como “o resultado de processo de contato entre diferentes pessoas na sociedade paulista quinhentista e seiscentista, que gerou novos grupos e uma nova dimensão da sociedade, a mestiçagem, sem que seja um fenômeno substitutivo em termos identitários, mas, antes, coexistentes com outras dimensões políticas, culturais e sociais”. (Godoy, 2017, 25) Ou seja, um novo ser como representante de uma nova raça e com lugar social diferenciado na sociedade.
O mameluco ou mamaluco, como se dizia na época, era o mestiço reconhecido pela linha paterna, com funções próprias quem nada diferenciava dos filhos legítimos contraídos em matrimônios oficiais. “O convívio de irmãos com estatutos diferenciados não impedia o sentimento de pertença a uma mesma família, mesmo que não houvesse igualdade entre os seus membros.” (Godoy,2017, 26)
Estes mestiços paulistas foram vitimas de rejeições: a dos pais, com quem queriam se identificar, do gentio materno e dos jesuítas que os consideravam como problemas para a colonização. Oscilando entre um e outro de seus ancestrais, os mamelucos caíam numa terra de ninguém, a partir da qual se forjou a identidade do paulista e depois ajudou a construir a do brasileiro.
Com o tempo “a mestiçagem produziu a “ninguemdade”, que é a desindianização do índio. A mestiçagem geraria o apagamento da identidade indígena. (Monteiro, apud Godoy, 2017,24)
A mestiçagem se tornou um traço marcante na formação de São Paulo. A presença indígena na família paulista resultou em traço distintivo das famílias do nordeste açucareiro influenciadas pela presença dos negros de origem africana.
Como escreveu o professor Boxer: “a raça mestiça de lusos e índios constituía o grosso da população das capitanias do sul”. Tal mistura contrastava com o que se passava na Bahia e em Pernambuco, pois a presença negra lá propiciou um aumento do contingente de mulatos. .A diferença entre o mameluco e o mulato acha-se expressa de modo conciso quando se diz que o primeiro não conhecia a mãe, enquanto o último ignorava quem era o pai”. (Boxer, 1963. Apud Mota, 2003, 4) Nessa interpretação, o índio meio-sangue seguia, via de regra, as pegadas do pai, tornando-se um preador da raça de sua própria mãe, enquanto o mulato continuava um escravo, como sua mãe africana.
Para saber mais:
– Mestiçagem no Brasil Colonial- A dor da convivência entre brancos e índios. Rosemeire França de Assis Rodrigues Pereira. In: http://www.webartigos.com/artigos/mesticagem-no-brasil-colonial-a-dor-da-convivencia-entre-brancos-e-indios/64518/