#tempodemovimento | Parte II – o paulista | Panela de barro e de ferro

Nas terras do Planalto ocorreu o encontro de povos de origem e culturas diferentes.  Os que representavam a cultura primitiva produtores da panela de barro e os da cultura europeia portadora de avanços tecnológicos simbolizado pela panela de ferro.

Os indígenas, para o Estado europeu, representavam a energia vital para as atividades coloniais, para os jesuítas a razão de ser da catequização e para os colonos despertavam a curiosidade e interesse pelo seu aproveitamento para as suas investidas pelo sertão e mão de obra para poder desenvolver as atividades  agrícolas

Mas, sobretudo, o que pesa na relação entre o primitivo e o recém- chegado é o véu da ignorância.  A postura de pretensa superioridade racial e cultural dos europeus que fazia predominar uma visão preconceituosa com relação ao outro

O relato do religioso, escritor e historiador francês Frei André Thevet (1502-1597), revela esta visão predominante à época: “Além dos cristãos que aí se estabeleceram depois da chegada de Américo Vespúcio, esta região era e ainda é habitada por estranhíssimos povos selvagens, sem fé, lei, religião e nem civilização alguma, vivendo antes como animais irracionais, assim como fez a natureza, alimentando-se de raízes, andando sempre nus tanto os homens como as mulheres, à espera do dia em que o contato com os cristãos lhes extirpe esta brutalidade, para que eles passem a vestir-se, adotando um procedimento mais civilizado e humano.” (THEVET, André. Apud: Bogaciovas, 2015, p. 85)

Do imaginário europeu surgido antes de sua vinda para o Brasil e da ambição contida no processo de expansão colonial surgiu a necessidade de dominar os indígenas,  de  explorá-los em tudo aquilo que pudessem servir aos propósitos do homem branco; catequizá-los, ou seja, convertê-los ao cristianismo.  Enfim, inseri-los na nova sociedade que estava sendo criada nos trópicos. “Povos dos campos e das florestas, gentios do sertão, são o sujeito e o objeto dos agentes da colonização, o elo histórico que permeia a tríade colonos, jesuítas e funcionários, cujos tempo, lugar e circunstâncias são largamente condicionados pelas forças telúricas da natureza, a um só tempo pródiga e hostil.  Esta é a história de São Paulo nos seus dois primeiros séculos” (Arruda, 2011, 25)

 

Para saber mais:

– Culturas em transformação: o s índios e a civilização.  Clarice Cohn.  In: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000200006