#tempodemovimento | Parte III – A Vila de São Paulo e a expansão paulista | Os cristãos novos na vila de São Paulo

A vila de São Paulo de Piratininga desde seus primórdios contou com a presença e a contribuição de judeus convertidos ao catolicismo, os denominados de cristãos novos.

Uma das importantes famílias de cristã novos estabelecida em São Paulo foi a de Pedroso de Barros ou Vaz de Barros, representadas pelos irmãos Antônio Pedroso de Barros e Pedro Vaz de Barros.  A fama dos Barros ser cristãos novos é confirmada em outros estudos dos historiadores como Américo de Moura (1952) e por José Gonçalves Salvador (1976) e Marcelo Bogaciovas (2015). Os referidos irmãos passaram, em princípios do século XVII, de Portugal para o Brasil, na Capitania de São Vicente, investidos nos mais altos cargos da administração local e se tornaram membros de uma elite paulista.

Antônio Pedroso de Barros nasceu em Lisboa, em cerca  de 1573.  Ainda adolescente, como filho mais velho e contando com cerca de 10 anos acompanhou o seu pai Jerônimo Pedroso e seu tio Manuel Cardoso às minas de Potosi.  Em 1590 retornou por Buenos Aires e chega a Salvador, na Bahia, onde fica sabendo da prisão de suas irmãs Lucrecta Pedroso e Bernarda Pedroso, realizada no dia 9 de março de 1591, na cidade de Évora, acusadas de práticas judaizantes.  Continuou residindo em Salvador, onde aos 22 de agosto de 1591 prestou declaração ao visitador do Santo Ofício e “disse ser natural de Lisboa meio cristão novo filho de Jerônimo Pedroso meio cristão novo e de sua mulher Joana Vaz de Barros também meio cristã nova. (In Bogaciovas, 2015, p. 113)  Em 1602 já havia se mudado e era provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e capitão mor da Capitania de São Vicente. Na vila do mesmo nome se casou com Isabel Leitão, natural do mesmo local e filha do capitão mor Jerônimo Leitão que, por sua vez, era filho de Branca Mendes da afamada família de cristãos novos dos Mendes e Dias.

 

O Capitão Mór Antônio Pedroso de Barros

O irmão Pedro Vaz de Barros nasceu em cerca de  1579 no Algarve e veio para o Brasil em sua  companhia, de que consta residência no ano de 1602.  Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e capitão mor da Capitania de São Vicente. Em 1608 se casou com Luzia Leme que era filha de Fernão Dias Pais e de Lucrecia Leme, neta do citado Pedro Leme. Antônio Pedroso faleceu em São Paulo em 1644 e sua esposa, nascida em cerca  de 1587,  no ano de 1655.

Pedro Vaz de Barros e Luzia Leme foram pais de uma prole numerosa que enorme influência teve na vila de São Paulo.  Por ordem de nascimento foram eles: Jerônimo Pedroso (1610); Valentim de Barros (1612- 1651) que se notabilizou na luta contra os holandeses em Pernambuco; Antônio Pedroso de Barros (1615) homem de muitas posses e ascendente de gerações importantes no país; Luís Pedroso de Barros (1617); Pedro Vaz de Barros (1619) foi o fundador da capela de São Roque, na vila de Santana da Parnaíba; Lucrécia  Pedroso de Barros (1626- 1648), deixou também numerosa e importância descendência; Fernão Pais de Barros (1633), foi considerado em seu tempo o homem principal da vila; Sebastião Pais de Barros (1635). “A esta família se ligam, ao longo dos séculos, boa parte da elite paulista, com grande número de bandeirantes, senhores de engenho, fazendeiros de café, titulares do Império, influentes políticos da República, religiosos, empresários e profissionais liberais.” Deste tronco descende também São Frei Galvão, antes conhecido por Frei Antônio de Santana Galvão de França, o primeiro santo brasileiro aqui nascido” (Bogaciovas, 2015, p. 111)

Como afirmou Marcelo Bogaciovas, formavam  “Uma família cristã-nova, ligada à pequena nobreza do Reino e de gente de grosso trato, com familiares presos pela Inquisição, passa para o Brasil (São Paulo), onde serviram os mais honrosos cargos da comunidade local. Eram geralmente conhecidos por cristãos-novos e mesmo assim não houve óbice algum à sua inserção na sociedade. Curiosamente, décadas depois, cuidaram de proceder a ‘limpeza de sangue’, como uma proteção aos seus descendentes” (Bogaciovas, 2011, 16)

Outra importante família de cristão novos de São Paulo foi a de Maria Betim.  A sua filha se casou com o Capitão-Mor Fernão Dias Pais, o “Caçador de Esmeraldas”.  Ao filho Garcia Rodrigues Pais no ano de 1710 foi negado se habilitar à Ordem de Cristo, pelos serviços prestados por seu pai à Coroa de Portugal, por ser “cristão novo por parte de sua avó materna”.  Garcia Rodrigues havia nascido em cerca de 1650 na vila de São Paulo onde se casou com Maria Antônia Pinheiro da Fonseca, também cristã nova que era filha de João Rodrigues da Fonseca e neta materna de Antônio Raposo Tavares.

O fato, porém, não impediu que o famoso bandeirante e seus descendentes pudessem ocupar altos cargos e gozassem de regalias após as descobertas auríferas. Garcia Rodrigues Pais recebeu a mercê do cargo de Administrador das Minas e Esmeraldas que descobriu, bem como a mercê do cargo de capitão mor dessa entrada de descobrimento. Mais tarde, em 1702, alvará de fidalgo da Casa Real.  O filho mais velho de Garcia e seu herdeiro, o Mestre de Campo Pedro Dias Pais Leme, foi fidalgo da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo e familiar do Santo Ofício, tendo recebido, em 27 de agosto de 1743, carta familiar. Inácio Dias Velho, igualmente filho de Garcia Rodrigues Pais, recebeu alvará do foro de fidalgo da Casa Real, ambos com 1600 réis de moradia.

 

Para saber mais:

– Uma família paulista quatrocentona de origem cristã nova.  Os Pedrosos e Vazes de Barros. Marcelo Meira Amaral Bogaciovas. In: http://www3.ufrb.edu.br/simposioinquisicao/wp-content/uploads/2012/01/Marcelo-Bogaciovas.pdf