A relação de indígenas com os brancos na então vila de Taubaté foi estudada pela historiadora Regina Kátia de Mendonça em sua obra sobre a Escravidão Indígena no Vale do Paraíba. Nele aborda a questão de forma mais abrangente a partir de exaustiva e competente investigação nos inventários e testamentos do século XVII apresentando resultados interessantes e importantes para a compreensão do assunto.
Nele, demonstra como ocorreu a exploração e os abusos sobre os indígenas sobre a condição de administrados. A partir de então aponta que: “não mandam avaliar os índios, o que se avalia é a atividade que representam, o serviço que são capazes de prestar, o rendimento que produzem. O alvidramento ou serviços alvidrados, se converte em regra.” (Mendonça, 2014, 40). No caso da vila de Taubaté os serviços alvidrados apareciam avaliados por grupos de indígenas, junto com ferramentas do proprietário e também junto com os filhos mamelucos quando houvesse.
Ao estudar as relações de trabalho na vila de Taubaté entre os anos de 1640 a 1699, constatou que com a mudança na organização do apresamento indígena aconteceu o aumento no fluxo de cativos indígenas provenientes de várias nações e regiões nos plantéis dos colonos. No total de 2296 cativos relacionados nas propriedades rurais havia uma presença maior de mulheres (41%), seguido de homens (34,1%) e de crianças (24,6%) Na região de Taubaté, segundo ela afirma, “o trabalho feminino e infantil foi aproveitado nas lavouras e na pecuária. Esta divisão do trabalho foi assim escolhida por aproveitar o costume indígena onde as mulheres na tribo tinham a função de trabalhar no plantio e na colheita. Os cativos homens foram aproveitados em outras profissões especializadas, tais como o transporte de cargas e participação nas expedições de apresamento e prospecção de minérios no sertão bem como outros ofícios.” (Mendonça, 2014, 126)
Em outra tabela (p.130) a autora apresenta a composição indígena por grupo étnico. Nela se pode constatar a grande variedade de grupos indígenas presentes no território da vila de Taubaté. Entre os diferentes grupos se destacam em maior número os Tabajaras, com 23 indivíduos, os Purís com 15 indivíduos, e, os carijós com 14 indivíduos. Mais do que isto, chama a atenção a presença de um grande número de indígenas não definidos étnica e culturalmente no total de 2275 indivíduos, parcela correspondente a 82,3 % do total dos indígenas arrolados nos inventários e testamentos no século XVII.
Os diferentes grupos provenientes de diversas regiões, aprisionados pela ação dos paulistas, além de serem variados, na maioria não pronunciavam os mesmos idiomas, formando grupos heterogêneos. Situação que favoreceu o controle por parte dos colonos proprietários e ao mesmo tempo estimulou as rebeliões e fugas como forma de resistência ao domínio e a exploração.
Ao processo de degradação humana, social e cultural a que os indígenas foram submetidos resultou em seu desraigamento cultural, ou seja, a perda de suas origens e consequentemente na perda de sua identidade cultural. Aos poucos, como se observa, transitam da vida tribal para a marginalidade social. A maior parte dos indígenas, mesmo aqueles que alcançavam sentenças favoráveis para conseguir sair da situação da escravidão passavam, como em outras áreas dominadas pelos paulistas, a integrar a camada mais numerosa da sociedade, “composta de lavradores pobres e agregados livres, os precursores da “sociedade caipira” (Mendonça, 2014, 51).
Para saber mais:
– Escravidão indígena no Vale do Paraíba: Exploração e Conquista do Sertão da Capitania de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, século XVII. Kátia Rico Santos de Mendonça.