#tempodemovimento | Parte VII | A ordem senhorial escravista e mercantil

Desde o início do século XVII a vila de São Paulo se firmou como polo do movimento de expansão colonial em direção ao interior do país.

A vila agora compreendia a sua sede e um conjunto de sítios e fazendas ao seu redor, ampliou o contato com o litoral e avançou em direção ao interior, em várias direções.  Entre os anos de 1645 a 1661 foram criadas seis novas vilas na continuidade do movimento de expansão paulista.  Em direção ao Vale do Paraíba foram fundadas as vilas de Taubaté (1645), Guaratinguetá (1651) e de Jacareí (1653); próximo a São Paulo foi criada a vila de Jundiaí (1655); e, em direção ao Sul foram fundadas as vilas de Itu (1656) e Sorocaba (1661).

Com a ampliação do movimento de colonização, da ocupação das terras e do crescimento demográfico ocorreu o aumento da produção de gêneros alimentícios e da criação do gado, visando abastecer a população.  A crescente dinamização econômica por meio da articulação com outras regiões do interior, do litoral e de outras capitanias fortaleceu o mercado interno e o conjunto da economia.  O velho bandeirante paulista passou a transitar para as atividades sedentárias, mais arraigados em  suas propriedades.

Desta forma a economia paulista ultrapassou a condição de mera subsistência.  Teve início o processo de mercantilização que trouxe para a antiga vila uma nova função, a de se constituir em polo comercial.  Com isto acentuou-se a dinâmica interna agora inserida em uma economia de abastecimento do mercado interno, diferentemente do que acontecia no restante da colônia voltada na produção para o mercado externo. Como defende a historiadora Ilana Blaj: “como no restante do Brasil colonial, o desenvolvimento da agricultura comercial e da escravidão moldaram os contornos mais amplos da organização social nesta região [São Paulo] no século XVII (…) a sociedade local e a economia repousavam em um sistema escravista bem articulado e em unidades produtivas orientadas para o comércio”.  ( Blaj, 1998, s/p. )

Como resultado consolidou-se um processo de expansão econômica, de mercantilização e de concentração de poder nas mãos de uma elite local.  Ao final do século XVII foi-se sedimentando uma ordem senhorial escravista e mercantil que resultou na constituição de uma sociedade hierarquizada e desigual.  Nela poucas famílias detinham os símbolos de riqueza e de poder. Como afirma Ilana Blaj “dessa forma, evidenciando toda uma produção interna transacionada com as vilas vizinhas e com as outras capitanias através do porto de Santos, acentuando uma base escravista e comercial que origina uma formação social hierarquizada, estratificada, com alto grau de concentração de riquezas nas mãos de uma elite produtora e mercantil” (Blaj, 1998, s/p)

O processo contínuo da expansão paulista esteve baseado na produção agrícola, na criação do gado e no comércio.  A mesma tendência se verificou nas vilas nascentes da região do Vale do Paraíba.  Nelas desde o início predominavam o interesse por aquisição de terras e de mão de obra indígena, com o fortalecimento das atividades econômicas diante das possibilidades de participação no comércio inter – regional. A partir da segunda metade do século as atividades econômicas foram estimuladas com a organização de empresas sertanistas que partiam em  busca de metais preciosos incentivadas pela Coroa portuguesa.

As vilas nascentes na região se tornaram as novas fronteiras abertas para permitir o avanço do movimento de expansão colonial. O seu território de abrangência  contava com terras em abundância para produzir, com o emprego da mão de obra indígena e com a proximidade com o litoral que criava condições para a ampliação do mercado consumidor.

É possível conjecturar, sem contudo poder demonstrar devido a ausência de documentação, que o excedente da produção no Vale do Paraíba era encaminhada para as vilas do planalto e sobretudo para o litoral levado por carregadores indígenas que conseguiam superar as asperezas da trilhas
para o mar e chegar ao litoral em três ou quatro dias

Como revela o historiador Mauricio Alves, com base nos estudos em 117 inventários da vila de Taubaté à época, que mesmo antes da descoberta do ouro, em fins do primeiro século da colonização existia “uma atividade mercantil estável e bem organizada” (Alves, 1998, 79)

Para saber mais:

– Agricultores e comerciantes em São Paulo nos inícios do século XVIII: o processo de sedimentação da elite paulistana.  Ilana Blaj.  Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000200012

– A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial (1681/1721). https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/resgate/article/view/8645537