#tempodemovimento | Parte II – O paulista | A aculturação às avessas

Em São Paulo de Piratininga, além da adaptação ao meio físico e do cruzamento inter-racial,  verificou-se uma  outra forma de relacionamento e até mesmo de proteção, como defende a historiadora Mary Del Priore:  a assimilação. (Apud Bogaciovas, 2015, p. 11)

Situação que diferencia da pretensão dos agentes da Coroa Portuguesa encarregados em impor a cultura europeia nos trópicos, fenômeno conhecido como europeização.  O processo de assimilação se diferencia da acomodação na qual existe um ajustamento de comportamento apenas externo do indivíduo à sociedade.  Neste caso, em especial no planalto paulista, por intermédio do contato e de comunicação, diversos contingentes humanos formados por  indígenas, brancos cristãos velhos, cristão novos e mamelucos passaram a aceitar e conviver uns com os outros.

Da tentativa de imposição do domínio português e da cultura europeia sobre os grupos autóctones resultou uma relação complexa de assimilação.  Neste novo ambiente só muito lentamente os padrões culturais europeus foram se instalando. Uma sociedade nova e complexa resultou da aceitação e aquisição de padrões comportamentais, tradições, sentimentos, ideias e práticas sociais presentes nos diversos grupos com características culturais diferentes.  Mesmo “sob a aparência de predomínio absoluto dos elementos da cultura europeia, viceja, mesmo que transformado pelo contato, o substrato dos povos submentidos à dominação colonizadora.” (Arruda, 2011, 123)

A vida de João Ramalho, no que tange à apropriação e representação da cultura indígena, é um exemplo do ajustamento do branco ao ambiente do planalto paulista.  Com a união com Bartira assumiu o modo de vida indígena.  Ele e seus filhos viviam conforme os indígenas. Diz-se que ele se  indianizou.    E não foi o único.  Outros tantos exemplos demonstram como ocorreu o ajustamento e a aproximação da cultura do outro, especialmente neste primeiro século de colonização.  Eram homens que, segundo o historiador Ronaldo Vainfas, experimentaram uma “autêntica aculturação às avessas” (Vainfas, apud Arruda, 2011,34)

Em São Paulo, os brancos e indígenas de vários grupos sofreram processo de mudança cultural afastando-se gradualmente em relação ao comportamento e aos padrões culturais específicos e originais.  Foram formando novas famílias.  Com a dificuldade em conservar incólume a eugenia de origem, passaram por um processo de assimilação, de aculturação e criaram novos costumes, valores e, por fim, a sociedade paulista.

A travessia do Atlântico e das muralhas da Serra do Mar se completou  com a quebra das barreiras culturais.  Teve início um processo de diferenciação da vila de São Paulo das demais vilas do litoral brasileiro e da Metrópole.

 

Para saber mais:

– Da vila ao sertão: os mamelucos como agentes da colonização.  Ronald Raminelli. R. iI UUirla, São Paulo, n. 129-131, |>. 209-219, ago.-Uez./93 a ago.-dez./94.  In: www.journals.usp.br/revhistoria/article/download/18729/20792