Os pioneiros adentram aos vastos campos denominados de planalto dispostos a romper com o passado em busca de afirmação de seus sonhos, do imaginário gestado antes mesmo de chegar ao Brasil, para iniciar uma nova vida. Contavam com enormes desafios e gozavam de autonomia. Foram ainda favorecidos com os prazeres da liberdade sexual proporcionada no contato com a sociedade indígena.
Os relatos deixados pelos jesuítas, por inúmeras vezes, dão conta de sua preocupação moral com o favorecimento da aproximação entre os brancos e as nativas. Escreveu Anchieta que: “as mulheres andam nuas e não sabem negar-se a ninguém, mas até elas mesmas cometem e importunam os homens, jogando-se com eles nas redes, porque têm por honra dormir com os cristãos.” (Apud, Arruda, 2011, 33). Aos jesuítas chamava atenção à maneira como elas andavam naturalmente nuas. Um chamariz para os homens sem mulheres e sem família, esparramados pelos campos e sertões.
Foi inevitável e certamente prazeroso o relacionamento entre as duas raças. Mesmo porque homens e mulheres podiam deixar o companheiro quando lhes agradasse, sem traumas e amiúde, sem violência.
É preciso entender que fazia parte da hospitalidade das tribos indígenas, era costume entre eles oferecer as filhas e outras mulheres aos hóspedes que deviam aceitá-las. Fato que favoreceu o desenvolvimento de uma política de alianças. O cacique Tibiriça casou três de suas filhas com europeus, entre elas a Bartira com João Ramalho. Estas uniões davam prestígio aos novos moradores dentro das comunidades indígenas.
A adaptação aos costumes indígenas, entre os quais era comum os homens terem várias mulheres acabou por favorecer a poligamia e o concubinato. O casamento na tradição cristã não constituía entrave para a prática do adultério e do concubinato levando desassossego aos jesuítas. O que na prática ajudou a tornar tolerável e aceito a figura do filho bastardo na sociedade da época.
Há de se lembrar a existência de diversas formas de violência praticada contra a mulher indígena quando da caça que eram submetidas no sertão e transformada em escrava de seus senhores ou quando simplesmente eram violentadas em seus afazeres diários por mancebos sedentos por sexo, como por diversas ocasiões se observa nos registros da Câmara de São Paulo.
Do cruzamento entre as raças resultou no aparecimento dos mamelucos. Homens que tiveram enorme importância na afirmação e desenvolvimento da vila em seus primeiros tempos e na sua posterior expansão nos séculos seguintes. Era o homem novo, símbolo de uma nova raça: o paulista. Depositário de uma certa identidade, portador de mentalidade e imaginário próprio forjado em novo contexto histórico, dotado de um “sistema de representações e de uma mitologia que expressa um tipo de consciência coletiva”. (Mota,2003, 1).
O paulista, cuja identidade continuaria a se afirmar na continuidade de novas travessias, vinculado a processos migratórios pelos séculos posteriores.
Para saber mais:
– Amancebamentos e famílias mestiças. MÁRCIA PINNA RASPANTI. In: http://historiahoje.com/amancebamentos-e-familias-mesticas/