Para atender a devoção mariana e o culto dos santos manifestados no culto doméstico, nas pequenas ermidas, nas comunidades rurais, bem como nas vilas foram se multiplicando a produção de imagens de santos e de nossa senhora que resultaram na formação de uma tradição regional desde seus primeiros tempos.
De início a produção de imagens foi influenciada pela tradição existente na vila de Mogi das Cruzes que se constituiu em uma zona de transição entre o vale do Rio Tietê e o vale do Rio Paraíba do Sul. A partir da formação das primeiras vilas as influencia da arte sacra paulista se propagou pelo Vale do Paraíba de maneira indireta, pois “não seriam recompostos em soluções eruditas, mas multiplicados em originais releituras popularizadas no âmbito devocional particular, uma produção ininterrupta que vai da metade do século XVII até o início do século XX.” (Schunk, 2013, p.366)
Nesse contexto desponta uma arte espontânea nascida da necessidade de seus moradores. Os santeiros se multiplicaram e se juntaram aos ceramistas no trabalho com a argila. A tradição artística em barro foi marcada pela produção laica, caseira e em ateliês familiares. “A estética popular tornou-se características emblemática no Vale do Paraíba colonial e foi decisiva para definir a estética religiosa produzida em momentos posteriores” (Schunk, 2013, 366)
A partir da segunda metade do século XVII, segundo o pesquisador Rafael Schunk, no Vale do Paraíba desenvolveu uma tradição da imaginária religiosa trabalhada por santeiros anônimos. Os quais ao disseminarem sua arte mantiveram a influência do barroco paulista advindo do planalto paulista adaptado às condições regionais. Embora, como complementa, tenha coexistido com exemplares da imaginária de cunho erudito.
Ao seu lado se destacou a produção ligada ao Convento de Santa Clara na vila de Taubaté que se tornou “um centro da imaginária regional”. (Tirapeli, in SchunK,2013,365). Cujo acervo cultural foi arruinado por um grande incêndio que impediu o registro de sua importância e influência nesse período.
A arte sacra seiscentista iniciada em Santana da Parnaíba com a utilização de barro, levado pelo movimento de expansão paulista se reafirma no Vale do Paraíba no período colonial, tendo as vilas de Taubaté e a de Guaratinguetá como os centros mais expressivos dessa produção.
A estética valeparaibana do século XVII valorizou o singelo que limitado pelas condições econômicas foi superada pelo otimismo e pela crença religiosa, na busca maior pelo espiritual e em suas manifestações de fé, de devoção do que pelo material, ainda marcada pela intropescção e sobriedade. Características que revelam ter sido a arte sacra desenvolvida estar mais próxima do imaginário cristão medieval do que do barroco.
Desse período Schunk destaca duas preciosas imagens por ele estudadas. Uma imagem de Nossa Senhora do século XVII, localizada em Caçapava Velha, de terracota e com resquícios de policromia, com 27 centímetros de altura, tendo sua base perdida, produzida provavelmente por um santeiro anônimo inspirado nas obras barrocas dos beneditinos. A outra, uma imagem de N. S. da Conceição, procedente também do Vale do Paraíba, do século XVII, de terra cota, policromada, com 17 centímetros de altura. (Schunk,2014, 367-368)
O trabalho artístico com a argila presente no período anterior à colonização entre grupos indígenas se ampliou ao longo do século XVII pelas mãos dos santeiros, constituindo-se em traço peculiar da cultura regional.
Para saber mais:
SHUNK, Rafael.Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária colonial brasileira: séculos XVI e XVII. UNESP – Cultura Acadêmica Editora, 2013, p. 373 – 381.