#tempodemovimento | Parte IV – Manifestações artísticas e religiosas | A expansão para o oeste

Em 1580, o vereador da vila de São Paulo, Manoel Fernandes Ramos recebeu uma sesmaria nas terras da Parnaíba, que significa “lugar de muitas ilhas”. Nela organizou a sua fazenda e construiu uma capela em louvor a Santo Antônio.  Esta data é reconhecida como o da fundação do povoado de Parnaíba.

Manoel Fernandes era português e se casou com Suzana Dias, filha de Lopo Dias, que havia se amasiado com uma das filhas de Tibiriça.  Deste casamento nasceu, em 1578, o primogênito André Fernandes, a quem após a morte do pai recebeu as terras como herança e reconstruiu a capela, agora dedicada a Sant’Ana.

Até alcançar a maioridade as terras foram administradas pela sua mãe Suzana Dias.  Uma senhora famosa e respeitada.   Uma matrona típica dos primeiros anos de São Paulo quando as mulheres, pela falta do marido, por falecimento ou devido às idas e vindas do sertão, eram as que assumiam as múltiplas funções de administrar a família, as suas propriedades e as questões cotidianas.

André Fernandes se tornou-se uma das maiores lideranças e expressões do lugar.  Contraiu matrimônio com Antônia de Oliveira, vinculando-se à família de Jerônimo Leitão e dos Mendes, todos cristãos novos. Como assinalou o historiador José Gonçalves Salvador, Ângela, sua irmã, também se vinculou ao clã concluindo que “bastaria à família Fernandes para comprovar a enorme infiltração da seiva hebraica no corpo ético desta capitania.”  (Salvador, 1976, p. 5)…confirmar  O que equivale dizer que Parnaíba passou a contar com a presença marcante na formação de sua população com os indígenas, portugueses cristãos velhos e cristãos novos. .

André Fernandes se tornou-se bandeirante famoso. Em uma de suas  bandeiras, a de 1630, abriu o comércio com o Paraguai.  Segundo Rafael Schunk ele foi ”um dos maiores piratas e cruéis matadores de índios que foram para o sertão.” (Schunk, 2013, p.195) Em suas jornadas foi sócio de Raposo Tavares que tinha descendência judaica. Mais tarde seus filhos fundaram as vilas de Itu e Sorocaba.

A região logo se tornou ponto estratégico, a rota das entradas e bandeiras que partiam ou retornavam a ela. Bandeirantes famosos nasceram em Parnaíba, como Domingos Jorge Velho e Bartolomeu Bueno da Silva, o “Anhanguera”.

Com o seu crescimento Parnaíba foi elevada à categoria de vila em 14/11/1625. Ela representou um momento novo no processo de colonização do planalto, consolidando-se como sede do mundo familiar bandeirante, núcleo miscigenado, atraindo pessoas de diferentes etnias, sem muros a cercá-la, configurando-se como um dos mais originais centros culturais do Brasil colônia.

A partir do aumento das hostilidades ocorridas no conflito entre os Pires e Camargos na vila de São Paulo muitos procuraram refúgio em Parnaíba.   O exemplo mais expressivo foi o de Guilherme Pompeu de Almeida, irmão de Pedro Taques, que se tornou abastado e opulento homem de posses da região.  Possuía inúmeras propriedades, muitos indígenas a sua disposição, plantação de trigo, animais de criação e atividade comerciais.  Segundo cronistas possuía mais de 400 arrobas de prata procedente dos Andes e ficou conhecido como “o banqueiro do sertão”.

A fé cristã em Parnaíba faria desta vila no séc. XVII um importante centro religioso e de intensa atividade artística. “A religiosidade na Parnaíba dos primeiros tempos seguia os sentimentos particulares de seus habitantes oriundos de várias nações e acomodava símbolos de diferentes credos: da pajelança indígena às secretas devoções praticadas pelos cristãos novos” (Shunk, 2013, p. 263).  Além do pioneirismo e do jeito de ser autêntico do planalto paulista, Parnaíba se destacou como grande centro cultural pela execução de obras artísticas emblemáticas fundamentais para a construção de uma cultura própria com repercussão em toda colônia.

O desenvolvimento do aprisionamento dos indígenas, das atividades econômicas e das atividades  ligadas à fé cristã tornaram a nova vila a grande rival da vila de São Paulo.

 

Museu Casa do Anhanguera, no centro da cidade, foi uma casa bandeirista do século XVII. Centro de Santana da Parnaíba. Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

 

Para saber mais:

‘Raízes’: Santana de Parnaíba tem 209 construções tombadas.  In:

http://especial.folha.uol.com.br/2015/morar/alphaville/2015/11/1703281-raizes-santana-de-parnaiba-tem-209-construcoes-tombadas.shtml