#tempodemovimento | Parte VI – Vale do Paraíba – a construção da paisagem | O Homem branco e a paisagem imaginada

O colonizador que adentrou o Vale do Paraíba procurava garantir a posse , o  domínio do território e a exploração de suas riquezas.  Para os colonos europeus significava assegurar a própria sobrevivência e a busca de novas formas de melhorar as condições de vida.  Para tanto foi preciso se adaptar às condições impostas pela natureza, desenvolver formas de produzir cultura. Era o meio de que se valia para de participar do processo de colonização e inserir na região a sociedade nascente na civilização europeia.  Toda a ordem por eles imaginada tendia a ignorar o outro, parcela considerável dos habitantes encontrados que deveriam para tanto ser subjugados e explorados.

Os novos habitantes na experiência com o novo espaço construíram no vale médio superior uma unidade específica, dotando-a de fisionomia própria.  O resultado foi fruto de seu imaginário e das suas práticas sociais, procurando atender seus interesses e necessidades que nem sempre eram os mesmos do restante da Capitania.

A partir da primeira metade do século XVII o Vale do Paraíba passou a ser ocupado e experimentado pelos colonos europeus oriundos, a princípio, do movimento de expansão do planalto paulista.

Aos poucos a paisagem regional passou a ser transformada pela utilização dos recursos naturais e pela apropriação simbólica do espaço.  Foram construídos os caminhos, levantadas capelas, surgiram as roças, os pousos e os primeiros povoados.

As primeiras vilas simbolizaram as novas fronteiras da expansão colonial agregando os moradores sob o poder da administração colonial. Os caminhos e as capelas constituíram sinais importantes da presença e da conquista portuguesa.

Os caminhos coloniais permitiram a penetração na região, estimularam o povoamento e a busca das riquezas materiais. Foram instrumentos da conquista portuguesa.  Ao cruzarem o Vale do Paraíba, em direção ao interior e ao litoral, transformaram essa região em “lugar de passagem”.  Com isso aliviaram a possibilidade de isolamento de seus habitantes e permitiram o contato constante com outros lugares. Ao longo dos caminhos foram se estabelecendo roças, pousos, capelas e povoados, marcando os traços característicos do cenário regional.

As capelas surgiram em decorrência do desejo de converter os povos pagãos ao cristianismo e da estreita ligação entre estado metropolitano e Igreja Católica durante o período colonial. Elas se tornaram elemento de conquista para o Estado metropolitano e para a Igreja Católica, pois significavam padrões de posse e de aglutinação dos seus moradores.

Elas eram erguidas nos povoados e nas margens dos caminhos para atender às práticas religiosas, como assistir à missa aos domingos e dias santos, fazer o sepultamento no interior da igreja para o repouso da alma e realizar o culto da imagem de invocação religiosa dos fiéis.  Atendiam ao fervor religioso dos primeiros habitantes e possibilitavam as manifestações de fé e o culto ao padroeiro.  As capelas, além de se constituírem em símbolo do poder espiritual aliado ao poder temporal, passaram também a determinar o traçado urbano dos lugarejos nascentes. Geralmente, a igreja era concluída e, posteriormente, os edifícios públicos e as demais edificações eram construídos, como ocorreu em torno das capelas de S. Francisco das Chagas de Taubaté e Santo Antônio de Guaratinguetá.

 

 

 O porto da Cachoeira. Gravura de Thomas Ender. 1817

A configuração geográfica caracterizada pela presença do rio Paraíba do Sul emoldurada pelas serras do Mar e da Mantiqueira propiciava aos seus habitantes momentos de rara beleza e de encantamento.  Ao cair  das tardes, quando o sol começava a se pôr entre as montanhas, diante da rápida metamorfose de cores e matizes, ocorreriam instantes de rara beleza e magia. Eram momentos propícios para o despertar da religiosidade e do sentimento místico.

As capelas se tornaram ponto de chegada e acolhida.  Os caminhos o percurso.  Assim a paisagem regional, desde o início da colonização, foi marcada  pela presença de capelas que se tornaram centro de peregrinação e devoção de seus santos padroeiros, como Senhor Bom Jesus de Tremembé (1672), N. S. da Piedade de Lorena (1705) e a maior delas, a de N. S. Aparecida (1745).

 

Capela de Aparecida (Morro dos Coqueiros), inaugurada em 26/07/1745.
Concepção arquitetônica baseada no estilo barroco da época. (Fonte, O Santuário, 2005)

Para saber mais:

Para saber mais: – – Francisco Sodero Toledo.  Capela de Nossa Senhora da escada.  Fonte: https://franciscosodero.com/blog-capitulo-texto/verbetes-capelascoloniais-i-no-caminho-velho-dos-paulistas-seculo-xvii-sao-francisco-das-chagas