#tempodemovimento | Parte VI – Vale do Paraíba – a construção da paisagem | O vale, o rio e as serras

O Vale do Paraíba é uma extensa depressão que se estende paralela ao litoral brasileiro dele se afastando em média de 60 km., oscilando entre 40 a 100 km.  Apresenta como característica principal a presença marcante do Rio Paraíba do Sul ladeado ao norte pelas serras da Mantiqueira e por outro lado, ao sul, pelo relevo montanhoso da serra do Mar. Está situado no centro-sul brasileiro, a leste do Estado de São Paulo.

A serra da Mantiqueira se apresenta como uma expressiva escarpa com grandes desníveis. Nela se destaca, pela sua altitude: a garganta de Embaú (1186m), a passagem Piquete- Itajubá (1437m), o pico de Itaguaré (2 308m), o Pico dos Marins ((2422m), as Agulhas Negras (2787m); a Pedra da Mina (2797m.) e o maciço de Itatiaia.

Nessa região encontra-se o vale médio superior do rio Paraíba do Sul que se estende do célebre “cotovelo”, na altura da cidade de Guararema, até Cachoeira Paulista.  Nele, situa-se a bacia de Taubaté.

Uma “depressão tectônica represada no plioceno, graças a movimentos relativos entre a soleira e o início da bacia” (Muller,1969, p. 227).  Por ela corre o rio Paraíba do Sul.  Ladeando a várzea existem vários níveis de baixo terraço que constituem locais para habitações e atividades rurais.  Acima deles aparecem outros dois terraços que serviram de sítios para instalação de vários núcleos populacionais. Acima desses níveis se encontram a área serrana da direita em direção da serra do Mar e a área serrana da esquerda que se aproxima das escarpas da serra da Mantiqueira.

O relevo suave facilitou a ocupação territorial e a construção de caminhos. A região oferecia condições propicias como se observa nas cartas de doação de sesmaria ao pioneiro Jacques Felix no ano de 1628.  Nela as autoridades coloniais afirmavam ter ela os recursos necessários capazes de garantir a fixação e sobrevivência do homem na terra com “todas as águas e matas”, além das facilidades para as suas “entradas e saídas”.

Como fatores favoráveis para a instalação e permanência dos homens na região destacam-se a presença de ventilação abundante, rios e água potável; o fato de ser uma área ladeada pela Serra da Mantiqueira, a serra que verte água, com a presença de terras abundantes, férteis com facilidade para o cultivo e a mata circundante que favorecia a obtenção da lenha para combustão e para o consumo doméstico, madeira para as construções e para as atividades da coleta.  O corredor natural que a caracteriza foi desde tempos mais remotos o caminho predileto dos índios. O colonizador europeu aproveitou destas trilhas uma vez que não conhecia o território adentro.

A várzea do Rio Paraíba tendo ao fundo a serra da Mantiqueira em Lorena. Gravura de Thomas Ender, 1817.