#tempodemovimento | Parte VI – Vale do Paraíba – a construção da paisagem | Os povos ceramistas

A presença de grupos ligados à tradição Itararé- Taquara foi encontrada no sítio Carcará em São José dos Campos e no sítio do Topo em Guararema. Segundo Marcel Lopes essa tradição foi caracterizada por conter vasilhames pequenos e finos com forma crônica e cilíndricas, geralmente sem decoração e com cores que variavam entre marrom escuro , cinza e preta e presença de casas subterrâneas,  dentre outros aspectos. (Lopes, 2014, 61) Segundo ele a “a tradição Tupi-guarani é caracterizada pela presença de cerâmica policroma (vermelho ou preto sobre engobo branco e/ou vermelho), com acabamento corrugado e escovado, além dos enterramentos secundários em urnas, os machados de pedra polida e a presença  de tembetás.” (Lopes, 2014, p. 62)

Os grupos pertencentes à tradição Aratu foram localizadas em grande parte do território brasileiro.

A sua origem na região do Vale do Paraíba Paulista está ligada aos deslocamentos de grupos Aratu originários do Brasil Central, “no contexto de diversificação cultural e pressões populacionais exercidas por outros grupos indígenas, antes da conquista europeia”. (Apud Caldarelli, 2003, p.224)

Essas populações indígenas, originárias do Brasil Central, eram caracterizadas pela utilização de cerâmica pouco decorada, com antiplástico mineral, com uso ocasional de incisão simples nas bordas, urnas funerárias periformes, vasilhas globulares, hemisféricas, formas duplas e vasilhas com bordas onduladas.

 

Cerâmica Aratu. Solange Bezerra Caldarelli.

 

A presença das populações de tradição Aratu está devidamente comprovada nos seguintes sítios arqueológicos encontrados na região:

– o “sítio de Caçapava 1”: localizado no município de mesmo nome.  Esse sítio possui uma área distinta contendo um cemitério indígena com 36 urnas funerárias escavadas e mais 6 estruturas, tendo sido ocupado entre os séculos XI e XIV da nossa era, por grupos portadores da cerâmica Aratu. Esses três séculos de permanência indicam grande estabilidade de população neste local. O grande número de estruturas funerárias, os pouquíssimos artefatos de uso cotidiano e a escassez de artefatos lítico encontrados indicam que este sítio devia possuir um significado especial para a antiga população indígena que ali enterrou seus mortos por cerca de trezentos anos.

A análise das peças de cerâmica encontradas no “Sítio de Caçapava 1” revelaram que em termos de tecnologia, além do emprego do acordalamento como técnica de construção foi constatado o uso de antiplástico mineral constituídos da argila empregada. As peças, em sua minoria (18% da amostra cerâmica), sofreram a queima completa e a maioria (82%) queima incompleta. Eles empregavam o forno de cova, uma área escavada, com os lados rodeados por paredes baixas de argila.  Nele o combustível era colocado em cima e embaixo dos potes no forno sendo o conjunto queimado quase da mesma forma que a céu aberto, podendo atingir e manter temperaturas mais altas do que na queima de céu aberto, resultando na ocorrência de uma cerâmica mais resistente.  A cerâmica produzida por estas populações tinha muitos usos, sendo empregada como urnas funerárias e para o acompanhamento diário como: armazenamento de alimentos sólidos ou líquidos, principalmente as de grande capacidade; cozimento, principalmente aquele, como por exemplo, com bocas abertas, bordas extrovertidas, ausência de ângulos e bases convexas, que permitiam grande exposição ao fogo; e, para servir, principalmente as vasilhas cujo maior diâmetro é o da boca.

Com o decorrer da pesquisa no local, além do material cerâmico, foram encontrados: materiais líticos (lascado e polido); de louça; de objetos de metal, restos vegetais (carvão): animais (conchas e placas de carapaça de tatu); e, antropológicos (restos de esqueletos humanos).  Pela análise do conjunto do material encontrado, por datações radiocarbônicas, da indústria cerâmica deste sítio pode se perceber a forte vinculação com a  cerâmica  Aratu do Brasil Central e mais tênue com a variedade Sapucaí de Minas Gerais, bem como não apresentaram indícios de contato com a população da tradição Tupi-Guarani.

– “Sítio Light”: localizado às margens da represa Santa Branca, no município de Jacareí, foi pesquisado pelo arqueólogo M.G. Bornal. Trata-se de um sítio onde os achados arqueológicos sugerem uma ocupação indígena não muito prolongada. Ali foram encontradas vasilhas esféricas com base cônica, cilíndricas de contorno infletido com base cônica, ovóides e semi-esféricas, bem como um cachimbo tubular.  Além disso  aparecem, em porcentagem menores, fragmentos com decoração plástica corrugada, ungulada, pintura vermelha sobre branco indicando o contato com grupos Tupi-Guarani.

“Sítio de Aparecida”: que domina grande parte da área urbana da cidade de Aparecida e contou com pesquisas e escavações realizadas pelo casal Conceição Borges Ribeiro e Vicente de Camargo, motivados pela revelação e o seu sentimento da preservação desta parte do passado. A notícia dos primeiros achados arqueológicos datam do ano de 1908. Outros achados foram sendo revelados (1928 e 1939). Os achados mais recentes, anotados pelo casal Camargo, datam de 1952 a 1979.

– “Sítio de Natividade da Serra”.

Para saber mais:

– A ocupação indígena do Vale do Paraíba, do Período Pré-Colonial ao contato com o homem branco.  Solange Bezerra Caldarelli.  In Arqueologia do Vale do Paraíba, 2003, p.210-212.