#tempodemovimento | Parte IV – Manifestações artísticas e religiosas | A presença dos cristãos novos no imaginário religioso paulista

Ao serem lançadas as bases de ocupação da região houve a fixação dos portugueses, cristão velhos e cristãos novos.  Por iniciativa de Martim Afonso de Souza foram montados os primeiros engenhos, a criação do gado, contando, quase sempre, com “judeus industriosos, fugidos à fúria religiosa da metrópole e de operários de São Tomé e Madeira, conhecedores do processo.” (Caio Prado Júnior, apud Novinsky, 2015, p. 88) Dentre as unidades produtoras se destacou o Engenho “dos Erasmos”, adquirido pela família Schetz de Antuérpia. Este engenho de São Vicente “foi o primeiro lugar do Brasil onde se praticou a religião judaica. O capitão-mor do engenho, Jerônimo Leitão, era casado com Inês Castelo, cuja mãe foi presa e penitenciada pelo Santo Ofício, sendo a mais fervorosa judaizante de seu tempo.” (Novinsky, 2015, p. 89)

Dentre eles se distinguiam os cristão novos e os criptojudeus. Termos que, segundo a historiadora Sônia Siqueira, não são sinônimos. “O nascimento gera o primeiro, a vontade o segundo.  O cristão novo se esforçava por ser igual aos demais: tentava vencer as barreiras do meio e do seu íntimo e se ajustar. O criptojudeu  se contentava em parecer igual aos demais.  Reservava-se o direito de continuar sendo judeu, de permanecer, às vezes, heroicamente fiel a si mesmo, à religião herdada.  Por isso tinha duas religiões: uma externa, social, outra a religião da sua consciência interior, feita de práticas secretas.  Odiava a sociedade que o compelia a uma vida de simulações que lhe tolhia a liberdade de crença, mas guardava certa atitude precavida, cônscio de ser o lado mais débil.” (Sonia Siqueira, 1978, p. 71)

Eram cristãos para o mundo e judeus em casa. Na prática secreta do judaísmo se reuniam para celebrações religiosas, ou seja, faziam esnoga, também reconhecida como uma pequena sinagoga, não oficial, voltada para o culto a Deus, a leitura do Torá e outras práticas religiosas. Desta forma a casa passou a ser o lugar de culto, de práticas religiosas, a própria sinagoga.  No seu interior as tradições religiosas judaicas eram transmitidas e as mulheres passaram a assumir papel de destaque na formação religiosa no âmbito das famílias.