Verbetes | #capelascoloniais | Capela de Santo Antônio de Guaratinguetá

  • Localização: Guaratinguetá
  • Erigida: 1651
  • Designação original: Capela de Santo Antônio
  • Designação atual: Matriz de Santo Antônio
  • Contexto histórico: construída ao longo do Caminho Velho dos Paulistas

A primitiva capela de Santo Antônio era de pau a pique, coberta de palha e foi construída na primeira metade do século XVII, provavelmente no ano de 1630.  Em 13 de fevereiro de 1651 o capitão Domingos Dias Leme, por ordem oficial, levantou pelourinho e transformou o povoado em Vila com a denominação de Santo Antônio de Guaratinguetá, tendo a capela dedicada a Santo Antônio no centro da povoação.

Em 1701, com o auxílio dos moradores ela foi ampliada e instalada a Confraria de Santo Antonio de “Goratinguetá”. Já construída em taipa, possuía três naves, três altares (dois dourados) e com o teto da Capela Mor forrado e esta toda pintada e com painéis; possuía já o consistório da Irmandade do Santíssimo incorporado em 1714.  Em 1770, devido ao lastimável estado em que se encontrava a Igreja decidiu-se pela sua reforma e a construção de um novo corpo para a igreja.  Em 1772 as obras foram arrematadas em hasta pública. Pela descrição do contrato de risco, ficava estabelecido que o corpo da igreja seria ampliado ou construído totalmente, tomando as proporções que atualmente tem, sendo as paredes de taipa com seis palmos de grossura; cento e trinta palmos de comprido e cinqüenta palmos de largura teria o corpo da igreja, com cinqüenta e cinco de altura. Haveria dois corredores, em cima e em baixo, com cinco janelas em cima e em baixo. A porta principal seria de almofadas.  Determinava também a construção do coro, com duas escadas (como ainda hoje), dos púlpitos e suas cúpulas etc. Por volta de 1777 as obras estavam adiantadas, porem não haviam sido concluídas.

 

Igreja de Guaratinguetá em 1817 – aquarela de Tomás Ender

Segundo a aquarela de Thomas Ender, de 1817, vê-se a matriz pronta, mas com uma só torre, em vez de duas previstas no risco, embora presentes as demais determinações do mesmo: janelas laterais em cima e em baixo, porta principal almofadada, etc. Era, enfim, uma igreja colonial. Era de taipa. Na sacristia atual, na parte interna das tribunas, ainda se pode ver como era a igreja há dois séculos.

O interior tinha ampla nave, como atualmente, e corredores em cima e em baixo acompanhando a nave, o que deixava a igreja escura; possuía três altares, o altar-mor e os de N. Sra. Das Dores e do Rosário, provavelmente. Essa dedução se baseia nas características do estilo dos três altares, principalmente nos capitéis das colunas e no fato de os dois últimos terem, atrás, sinais de que seriam escanteados, costume muito comum nas igrejas coloniais de três altares. Todo esse conjunto, e mais o Arco-Cruzeiro é barroco, com características distintas de outras regiões.

Entre 1822 e 1860 houve amplas reformas na fachada da igreja que tomou um aspecto neoclássico, o que causou admiração de Emílio Zaluar: “uma das coisas mais dignas que ali se observa é a capela do Ss. Sacramento, todo dourada, obra de bastante gosto e arte, mandada construir a expensas do finado alferes Antonio de Paula e Silva”. Esta capela, que se localizava onde hoje é a sacristia, desapareceu em reformas posteriores. Era de talha e retábulo, forrada, pintada e dourada.

As obras modificadoras do frontispício tiveram inicio em 1834 com a demolição do velho frontispício que era feito de taipa de pilão, e da torre, agora substituídos por novos erguidos de pedra. Em 1852 estava erguida a torre do lado do Evangelho com seus sinos velhos. Depois de 1852 se ergueu a outra torre. As torres correspondiam a dois terços da altura atual. Toda fachada assumiu um aspecto neoclássico com suas colunas e pilastras de ordem toscana e de pedra. As partes laterais continuaram como na antiga igreja; contudo, quatro portas foram abertas.

Os seis altares formam três pares: N.Sra. das Dores e N. Sra. Do Rosário (recuados para os corredores laterais, quando se abriam os arcos na nave), Divino e S. Miguel, N. Sra. Do Carmo e Santa Terezinha. Entretanto, os altares de cada par são ligeiramente diferentes em alguns pormenores. A abertura dos arcos, entre a nave e os corredores laterais se deu no final do século XIX, quando também se abriram as tribunas nos corredores superiores, de onde as distintas famílias poderiam, mais comodamente, assistir às solenidades maiores. Com a abertura das arcadas, desfez-se o problema da escuridão da igreja.

 

Aos 9 de outubro de 1856 foi inaugurado o sino grande. Ele tinha sido festivamente recebido no ano anterior às margens do Paraíba, por onde tinha vindo desde Jacareí, onde embarcara procedente de São Paulo. O sino pesava 105 arrobas. Em 1º de dezembro de 1880 inaugurou-se o relógio, da fachada da igreja, foguetório e musica executada pela banda Mafra. Também dessa época foi a oferta de dois conjuntos de seis castiçais e crucifixo de prata para os altares de Santo Antonio e N. S. Das Dores.

As reformas continuavam. Entre outros melhoramentos o Pe. João Filippo mandou erguer um anjo com um livro, no frontispício. Nesse livro vinha a inscrição: “Ego Dominus protegeram civitatem istam” (Eu, o Senhor protegerei esta cidade). Esta inscrição, já em português, figurara no exterior do oratório erguido no lugar da estátua do anjo, em 1901, para comemorar a passagem do século. Esse oratório sobre o triângulo do frontispício,  encerrava uma imagem do Coração de Jesus, vinda de Nápoles, que mede 2 metros de altura e é de pedra natural; e novos e muitos melhoramentos foram realizados na matriz. De 1910 a 1913, outras alterações. Como o conjunto ficasse desequilibrado, foram alteradas as torres que tomaram a altura atual, com pilastras da ordem coríntia. Todo frontispício e quase toda a parte lateral, com exceção das janelas da parte baixa da sacristia, passaram por novas transformações com acréscimos de elementos neoclassicizantes em torno das janelas e portas; foram suprimidos os beirais coloniais, substituídos por platibandas vasadas; o tímpano central recebeu a imagem de Santo Antônio e anjos em relevo; coruchéus piramidais foram colocados nas faces do triângulo, nas torres e platibandas laterais; nichos foram abertos nas paredes de fachada e aí colocadas obras de Agostinho Odizio, de São Paulo.  Foi inaugurada a porta atual, obra do marceneiro Agostinho Del Mônaco e que conserva o estilo da primitiva. Alfredo Júlio Guilherme foi o executor das obras; o arquiteto Dr. José Saccheti fez a planta da reforma. A decoração interna do templo também passou por reformas efetuadas por Frei Cândido, OFM, com pinturas realizadas por Virgílio Gomes.

Durante o século XX novas alterações foram realizadas. Em 1914, novas inaugurações: a capela do Santíssimo, os altares de N. Sra. De Lourdes e S. José, junto ao Arco-Cruzeiro , avultado número de quadros (já desaparecidos), os dois púlpitos, grade de ferro em todos os altares e na porta da capela do Santíssimo e nas janelas. Em 1928, inaugurou-se o altar de mármore da Capela do Santíssimo. Em 1930, outras modificações, como a substituição do piso de madeira por um de mosaico. Nessa ocasião, foram retirados os restos dos defuntos sepultados na igreja em séculos passados, e reunidos na parte central, sob o grande lustre de cristal então existente próximo ao Arco-Cruzeiro. É desse ano à inauguração do belíssimo para-vento, obra em talha de madeira. Os pára-ventos das portas laterais, do mesmo estilo, desapareceram nos anos 50. Novas reformas foram efetuadas nos anos 40, 50 e neste início do século XXI dando a Igreja Matriz de Santo Antônio de Guaratinguetá as características atuais.

 

Para saber mais:

COUPÉ, Benedito Dubsky – A Matriz de Santo Antonio de Guaratinguetá – Separata da Revista Ângulo – Caderno das Faculdades Integradas Tereza D’Avila, Lorena, 1983, nº 18

– SODERO TOLEDO, F. Estrada Real: O Caminho do Ouro. In Estrada Real: Caminho do Ouro de Fábio Sanches, Francisco Sodero e Henrique Alckimin. Lorena, 2006.

-TIRAPELLI, Percival. A Construção Religiosa no Contexto do Vale do Paraíba –
Estado de São Paulo. São Paulo: Dissertação de Mestrado, inédito, 1983.