Verbetes | #capelascoloniais | Capela de N. Sra. da Escada

  • Localização: município de Guararema.
  • Erigida: 1652.
  • Designação original: Capela e Residência de Nossa Senhora da Escada.
  • Designação atual: Igreja de Nossa Senhora da Escada.
  • Contexto histórico: construída ao longo do Caminho Velho dos Paulistas, dentro da concepção jesuítica.

 

A Capela de Nossa Senhora da Escada foi construída em 1652 pelos jesuítas no centro de um primitivo aldeamento às margens do Rio Paraíba. Está localizado  3,5 km. do centro da cidade Guararema. Ela ficava  situada na rota de outras reduções como Itaquaquecetuba e São José (dos Campos), já no Vale do Paraíba onde os jesuítas foram proibidos de construir suas residências, pois estavam a meio caminho das minas de ouro.

 

O mapa acima já é uma versão “recente”, de 1827. Percurso: São Paulo, Santa Anna (Santana de Parnaíba), Conceição (Guarulhos), Escada (Guararema), Jacarahi (Jacareí), S Jose (São José dos Campos), Tubate (Taubaté), Pindaminhaguba (Pindamonhangaba), Guratinguito (Guaratinguetá), Piedº (Lorena) e Guarda do Coutinho (Porto Seco)

No início do século XIX a capela foi praticamente abandonada em função de outro templo melhor localizado.  A Igreja resistiu à ação do tempo, passou por reformas e ampliações até ser tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, no dia 25 de janeiro de 1941. A partir de então sofreu reparos e reformas em 1945, 1947 e 1957.  Pois a  parede posterior cedeu, devido à infiltração de águas pluviais entre a taipa e os acréscimos (torre, paredes divisórias e dois grandes encamisamentos que atuavam como reforços às paredes externas), como decorrência o telhado da sala posterior à capela ruiu pela falta de amarração entre os frechais.  Em setembro de 1947, novos desabamentos, no mesmo local e junto à base da torre, também provocados por infiltrações, voltaram a ocorrer, sendo autorizadas novas obras de emergência, que consistiram no preenchimento das porções desagregadas ou ruídas dos muros de taipa e na recomposição da área desabada da cobertura. Realizados estes serviços, periodicamente o telhado reclamava por reparos e, nas paredes, porções de revestimento se descolavam, devido à umidade e a goteiras.

Em 1954 foram autorizados os serviços de restauração, que se prolongaram até 1957. Foram demolidas a torre e as divisórias mais recentes, de colunas e encamisamento de paredes, construídos em alvenaria de tijolos; execução de sulcos na taipa para a introdução de um sistema de reforço, executado através de vigas e colunas de concreto armado, complementadas por placas de mesmo material executadas nas bases das paredes que, além de sua função estrutural, preenchiam as porções erodidas da taipa; reparos nas esquadrias; execução de forros e pisos de tabuado, de ladrilhos de solo-cimento e pedra; execução de revestimentos, pintura geral e reparos em escadas, altares; remoção de toda a argamassa de revestimento solta e/ou comprometida; remoção dos trechos comprometidos de pau a pique, assim como dos tabuados de piso e forro, danificados ou introduzidos no monumento por reformas descaracterizadoras.  A praça fronteira foi remanejada para garantir o desvio do tráfego pesado.

Em 1982, a Igreja passou por uma reforma definitiva quando foi construída a praça em frente.

O conjunto da Aldeia da Escada representa um padrão de assentamento arquitetônico e jesuítico dos primeiros séculos de colonização do Brasil.   Ela denota a concepção jesuítica: as paredes construídas de taipa de pilão e pau a pique de estilo tipicamente barroco, revestimento de barro e reboco, possui planta retangular com telhado de duas águas, com um corpo de residência à lateral direita, ambas se abrem para o largo ou terreiro, onde se localiza um cruzeiro. Internamente possui uma nave generosamente dimensionada para abrigar os fiéis, um coro em mezanino sobre a entrada principal, poucas aberturas e um altar-mor que introduz o repertório escultórico caipira. As poucas talhas revelam que a austeridade também caracterizava os ambientes de culto, nos altares predominam os grandes planos lisos de tabuado, apenas interrompidos pelos elementos decorativos das cercaduras dos nichos.

A igreja sem torres está agregada à residência, com pequeno óculo no triângulo formado pela empena. A residência alonga a fachada plana tem três janelas na parte superior e três portas desalinhadas no térreo.  Há dois altares junto ao arco da capela mor ornados em entalhes e pinturas de sabor popular; o retábulo principal é todo em madeira com apenas um nicho em arco pleno de pequena profundidade. Ao observar a parte posterior do altar vê-se a estrutura em madeira pouco distante da parede que fica junto à taipa. Este tipo de altar formando um novo anteparo plano para apenas um nicho em arco, é raro e certamente deveria ostentar ornamentação pictórica. O retábulo em madeira toma todo fundo da capela-mor. Austero, desprovido de ornamento, com peanhas sobressaindo-se ao imenso madeiramento aplicado em todo vão arquitetônico, sobre estrutura que distancia pouco da taipa, abre apenas um nicho para a imponente imagem da Nossa Senhora da Escada. Sobre o altar, um sacrário de linhas maneiristas com pintura de Cristo Ressuscitado, com traços como os da porta do sacrário da primitiva igreja do Morro do Castelo dos jesuítas no Rio de Janeiro. No arco cruzeiro, dois retábulos singelos completam a ornamentação com solução inusitada triangular dos lambrequins (guarda-pós), sendo que o do altar de São Benedito é ornado com pintura de flores ao gosto rococó.  (Percival Tirapeli)

O convento, situado no prolongamento da elevação da igreja, encontra-se dividido em dois pavimentos, muito alterados no decorrer do tempo. A envasadura das janelas da extremidade do convento abre-se para fora. A torre está situada na linha da fachada, à direita da Igreja.  O local preserva o adro que fica em frente da igreja, chamado de pátio.  Um lugar especial onde os índios usavam para realizar as suas cerimônias.

Fachada atual

No seu interior possui a única imagem no Brasil de São Longuinho, conhecido popularmente como o Santo dos achados. A imagem não possui as pernas pois, segundo a tradição local, o santo perdeu-as em uma batalha.

Para saber mais:

– SODERO  TOLEDO,  F.rancisco .  Estrada Real: O Caminho do Ouro.  Aparecida: Ed. Santuário, 2006.

– TIRAPELI, Percival.  Arte na Reduções Jesuíticas : de São Paulo ao Cone Sul. In http://www.tirapeli.pro.br/producao/pos_doutorado2.htmlObtido em setembro de 2011

            – Retábulos Paulistas. In http://www.tirapeli.pro.br/artigos/retabulos.html. 2006. Obitido em setembro de 2011