Os Puris e os Coroados tinham muita semelhança entre si, faziam parte do grupo Jê oriental. Eles foram encontrados pelos colonos, assim como os Maromimis e Termimimós, pela margem esquerda do território paulista até o baixo Vale do Paraíba. Os Puris atingiam ainda os territórios do Espírito Santo e Minas Gerais.
No Vale do Paraíba Paulista permaneceram até o início do século XIX quando no ano de 1800 foram reunidos no aldeamento de São João Batista de Queluz que deu origem a cidade do mesmo nome. A partir de então começou um rápido processo de destruição de sua cultura e dizimação dos últimos sobreviventes. Eram possuidores de um indomável amor à liberdade e à vida nômade que os colonizadores empenharam em aniquilar.
Os viajantes que passaram pela região deixaram registrados as suas impressões sobre o seu modo de vida. Von Spix e Von Martius e assim os descreveram:
“os índios são baixos ou de estatura mediana; os homens tem quatro a cinco pés de altura, as mulheres em geral, pouco mais de quatro pés; todos têm corpos robustos. Largos e acaçapados. Só,raramente se acha entre eles alguns de estatura alta, esbelta. Têm espáduas largas, pescoço curto e grosso… as extremidades são pequenas, as inferiores não são polpudas; são, sobretudo, franzinas as barrigas da perna e as nádegas; as superiores são arredondadas e musculosas. O pé é estrito no calcanhar, muito largo na frente, o dedo grande aparta-se dos outros;… o colorido da tez é vermelho cúprico, mais ou menos carregado, diferenciando segundo a idade, a ocupação e estado de saúde do indivíduo… Em geral são de cor tanto mais escura, quanto mais robusto e ativo.” A sua pele é muito fina, macia e brilhante… O cabelo negro, comprido, escorrido, luzidio, cai espesso e emaranhado pelas costas. Nas axilas e sobre o peito, não se nota cabelo algum; nas partes sexuais e no queixo dos homens apenas leve penugem….O rosto é largo e anguloso… As orelhas são pequenas, bonitas, um tanto saídas para fora, não são furadas nem desfiguradas por objetos pesados. São pequenos os olhos, pardo-escuros, oblíquos, o canto inferior volvido para o nariz… o nariz é curto, em cima achatado e chato na ponta… as narinas são largas e pouco viradas para fora, os lábios muito menos grossos e entumecidos que os dos negros… a boca é pequena… São muito alvos os dentes… Em geral, o corpo do índio é entroncado, largo e baixo” (apud, Reis, 1979, p. 62)
Esses indígenas tinham maneira de pensar, agir e sentir próprias da sua comunidade que eram profundamente diferentes das dos portugueses. Entre os conceitos divergentes estava a noção de propriedade dos alimentos e bebidas, coletiva para os ameríndios e individual para o branco; a desambição do índio, com o consequente desapego por “coisa alguma” e o sempre crescente desejo intenso de posse, de bens pelos europeus…. Sujeito aos invernos rigorosos, o europeu não entendia o costume indígena meramente imediatista, de prover e não guardar, que poderia ser atribuído à benignidade nosso clima e à prodigalidade da natureza, que fornecia animais silvestres e peixes e produzia frutos sem o trabalho da semeadura” (Reis, 1979, p. 72).
O Puri não exercia qualquer atividade agrária, porque obtinha da natureza pródiga os recursos animais e vegetais indispensáveis à sua subsistência. Por essa razão eram nômades, vivendo da caça e da pesca, da colheita do mel, de frutos silvestres, como da sapucaia, da extração do palmito e de raízes e caças nas florestas.
As suas moradias “eram provisórias, simples abrigos temporários cobertos “de folhas sustentadas por varas, onde acendiam fogueiras para se resguardarem do frio. A rede de dormir era tecida de embira e ficava suspensa entre dois troncos de árvores, aos quais, em cima, estava amarrada transversalmente, como uma corda de cipó.” (Reis, 1979, p.82) O fogo, que os Puris chamavam de pote, permanecia sempre aceso e era alimentado durante toda a noite para protegê-los do frio e afugentar as feras e os insetos da proximidade de suas choças. Sua diversão principal era a dança, uma espécie de umbigada exercida em grupo.
Para saber mais:
– Alguns aspectos da cultura material dos Puris. Paulo Pereira dos Reis. In O Indígena do Vale do Paraíba, p. 81- 89
– Os Puris de Guapacaré e algumas achegas à História de Queluz. Paulo Pereira dos Reis. In Revista de História, vol. 61, São Paulo: 1965.