Verbetes | Capelas Coloniais | Século XVIII | Capela de Sant’Ana do Paraitinga de Cunha

  • Localização: município de Cunha
  • Erigida: 1736
  • Designação original: Capela de Sant’Ana do Paraitinga
  • Contexto histórico: construída ao longo do Caminho do Ouro.

A Capela de Nossa Senhora Sant’Ana do Paraitinga foi construída entre os anos de 1736-1740, quando foi criada a Capela de Nossa Senhora Sant’Ana do Paraitinga. Ela ficava localizada no topo de um morro sereno e aprazível, no bairro do Campo Belo, à frente da várzea do Rio Paraitinga.

A sua construção foi realmente suntuosa para um templo religioso da zona rural. Isso é devido à abastança econômica e o nível social elevado dos primeiros moradores dessa região. Foi feita de taipa de pilão batido com cerca de 60 centímetros de largura, as paredes de aproximadamente cinco metros de altura, sustentadas por alicerce feito de pedras irregulares que se prolongam para frente da capela, formando o pátio externo. A edificação de norte a sul contava com mais ou menos 14 metros de comprimento por uns sete de largura.

Em 1866 a capela estava em estado de ruínas e em perigo de desmoronar.  Foram feitas pequenas reformas de pintura, caiação tanto no seu interior como nas partes externas.  As intervenções não foram suficientes para impedir sua demolição no ano de 1947.

 

Descrição da Capela

Por João José de Oliveira Veloso

             “A capela de taipa, coberta de telhas coloniais, tinha duas janelas laterais: uma à esquerda, pequena – da sacristia; e outra, maior, no final da parede do lado direito, na direção do altar. A grande porta principal, de madeira de lei era trancada por dentro.  Junto a ela, no início da parede lateral direita, uma portinhola resistente e fechada à chave, dava entrada à Capela.  Nas laterais do frontispício do templo, dois pilares de pedras, com sessenta centímetros de diâmetro, com três metros de altura, formavam um suporte à estrutura de taipa.  À meia altura desses pilares, prolongavam-se duas muretas de pedra com o mesmo diâmetro, a uma distância de aproximadamente cinco metros, e que formavam e protegiam o patamar da entrada da Capela.  Num nível abaixo, no centro, circundado lateralmente por pedras irregulares, inclinava-se uma escada bem trabalhada, com degraus também de pedras, que consistia no acesso natural ao átrio e à porta principal.

 

Descrição Interna

…Na parede, acima da porta principal, um sino do tamanho médio suspenso, era atado a uma peça de madeira de lei, introduzida no orifício esquerdo do frontispício.  Logo à frente da pequena porta de acesso ao interior da capela, iniciava-se uma escada de madeira, que conduzia direto ao coro, que ocupava todo o espaço superior da entrada da capela. O coro, geralmente utilizado nas festas, era todo construído com madeira de lei e guarnecido de uma grade de proteção bem trabalhada.

Anexo à parede do fundo, ocupando todo o espaço, situava-se o grande altar ornamentado para as celebrações das santas missas.  Antes dele, num nível aproximado de um metro, acima do piso da capela, estendia-se um grande patamar de madeira, com três degraus centrais que possibilitavam o acesso ao próprio altar, que ficava ainda num plano superior.  As crianças geralmente ficavam em pé, nas laterais desse patamar para acompanhar as santas missas.  Bem rente à ala esquerda, num plano pouco superior ao piso da capela, localizava-se um banco de madeira de tamanho médio, utilizado pelo Apostolado da Oração.  Acima do altar, no centro da parede, fixavam-se a imagem da padroeira Nossa Senhora Sant’Anna e o Crucifixo; sobre ele, dois castiçais laterais.  À sua esquerda, uma porta dava acesso a um puxado – que deve ter sido construído no século XX – no final da ala esquerda do templo, com a cobertura abaixo do nível do telhado principal, formando meia-água.  Era a sacristia.  A porta que conduzia a ela, que sempre se mantinha fechada, tornava o seu interior, sem ventilação e um tanto escuro.

O piso da igreja, incluindo o do próprio altar, era de tábuas de cedro.  Como a sacristia se prolongava fora, além do alinhamento da parede de taipa, seu piso era revestido de pedras irregulares, semelhantes ao da calçada externa.  Antes de o arco circular que atingia o teto, e que divisava o patamar com o coro da capela, à lateral esquerda existia um púlpito para os sermões, no dia principal da festa.  Na lateral direita, um banco comprido encostado à parede servia de assento às mulheres.  À esquerda da entrada principal, pouco abaixo do coro, fixava-se a pia batismal. Como não houvesse bancos para os fiéis, os homens ora permaneciam de pé na lateral esquerda, ora sob o coro, logo na entrada.

O forro era todo bordado, feito de cedro, gradeado e boleado, e tinha a cor azul claro.  As paredes internas, de coloração amarela, mantinham um quadro de São Francisco e de outros santos.  Nas  laterais do arco, havia dois confessionários de madeira, também.” (Veloso, 2010, p. 163-165)

 

Para saber mais:

Referências:

– SODERO TOLEDO, F. Estrada Real: O Caminho do Ouro. In Estrada Real: Caminho do Ouro de Fábio Sanches, Francisco Sodero e Henrique Alckimin. Lorena, 2006.

– VELOSO, João José de Oliveira.  A História de Cunha.  Cunha. SP: Centro de Cultura Tradição, 2010.

Capela de Nossa Senhora Sant’Ana do Paraitinga. Cunha: Centro de Cultura e Tradição de Cunha, 30 p., 1993.